Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de Sistematização

Pedro Dias

1. ARQUITECTURA MUDÉJAR: DA SÍNTESE À AUTONOMIA ESTÉTICA

A arte mudéjar foi uma das mais notáveis criações artísticas peninsulares e um dos nossos grandes contributos à estética europeia (1)Gonzalo M. Borrás Gualís, «El mudéjar como constante artistica», Actas del Simpósio Internacional de mudéjarismo. Arte, Teruel, 1981; Gonzalo M. Borrás Gualís, «El arte mudéjar: estado actual de la cuestión», Actas do Seminario Internacional sobre El mudéjar Iberoamericano; una expresión cultural de dos Mundos, Granada, 1993, p. 9 e segs. , fruto dos contactos entre cristãos e muçulmanos, da síntese de raças e culturas que aqui teve lugar, durante mais de sete séculos (2)A historiografia artística espanhola tem dedicado ao mudéjar centenas de estudos. Deixamos aqui apenas alguns dos livros mais recentes e de carácter geral: Maria da Concepción Abad Castro, Arquitectura mudéjar religiosa en el arzobispado de Toledo, Madrid, 1989; Maria Dolores Aguilar Garcia, Malaga mudéjar. Arquitectura religiosa y civil, Malaga, 1980; Diego Angulo Iñiguez, Arquitectura mudejar sevillana de los siglos XIII, XIV y XV, Sevilla (1932) 1983; Gonzalo M. Borrás Gualís, Arte mudéjar aragonés, Zaragoza, 1978; Gonzalo M. Borrás Gualís, El arte mudéjar, Teruel, 1990; Gonzalo M. Borrás Gualís, Teruel mudejar, Patrimonio de la Humanidad, Zaragoza, 1991; Pedro Lavado Paradinas, Carpintena y otros elementos tipicamente mudéjares en la Provincia de Palencia, Palencia, 1977; Ignacio Henares Cuellar & Rafael Lopez Guzman, Arquitectura mudéjar granadina, Granada, 1989; Maria Carmen Fraga Gonzalez, Arquitectura mudejar en la Baja Andaluzia, Santa Cruz de Tenerife, 1977; Carlos Lasierra Gómez, La arquitectura mudéjar religiosa del siglo XVI en Aragón, Zaragoza, 1987; Balbina Martinez Caviró, Mudéjar toledano. Palacios y conventos, Madrid, 1980; Pilar Mogollón Cano-Cortes, El mudéjar en Extremadura, Cáceres, 1987; Basilio Pavón Maldonado, Arte toledano islamico y mudéjar, Madrid, 1973; Maria Teresa Perez Higuera, Arquitectura mudéjar en Castilla y Leon, Valladolid, 1993; Leopoldo Torres Balbas, Arte almohade. Arte nazari. Arte mudéjar (Ars Hispaniae, IV), Madrid, 1949; Manuel Valdés Fernandez, Arquitectura mudéjar en Leon y Castilla, Leon, 1981; Maria del Carmen Fraga Gonzalez, La arquitectura mudéjar en Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1977.. Mesmo depois da conquista do último reduto islâmico, o reino de Granada, em 1492, e da expulsão oficial de mouros das terras dos Reis Católicos e de D. Manuel I, a marca da sua estética perdurou ainda dois séculos e foi levada até aos territórios de descoberta e colonização recente (3)Ramón Gutierrez, Arquitectura y urbanismo en Iberoamerica, Madrid, 1983. , às Canárias, a Madeira, talvez aos Açores, e as Américas, a Cuba, México, Peru, Colômbia e Equador.

Paço da vila de Sintra em 1903 (Desenho de Enrique Casanova)

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A palavra mudéjar, para definir uma realidade estética, foi usada, pela primeira vez, por José Amador de los Rios, no seu discurso de entrada na Academia de Bellas Artes de San Fernando de Madrid, em 19 de Junho de 1859 (4)José Amador de los Rios, El estilo mudéjar en arquitectura, edição de P. Guenou, Paris, 1965.. Deu-lhe um sentido claramente étnico, pois entendia por arte mudéjar a que foi praticada por muçulmanos em territórios já dominados por cristãos. Essa primeira conotação foi-se perdendo e, já desde o início deste século, com autores tão prestigiados como Lampérez y Roméa (5)Vicente Lamperez y Romea, História de la arquitectura cristiana en España, Barcelona, 1909. , se passou a entender o mudéjar como a persistência da estética hispano-muçulmana, fosse praticada por mouros, por judeus ou por cristãos. Como lembrou Gonzalo Borrás, «… o que começou por ser uma simples herança islâmica, ao ficar liberta do domínio político-religioso do Islão, converte-se numa manifestação artística nova, que caracteriza a cultura hispânica, desligando-se paulatinamente do suporte étnico mudéjar que a potenciou, para sobreviver a fenómenos culturais tão drásticos como a conversão forçada das minorias étnicas, primeiro, e a expulsão dos mouriscos, mais tarde.» (6)Gonzalo M. Borrás Gualis, E1 legado del arte mudejar en España, Arévalo, 1994, p. 33..

No contexto da geografia mudéjar peninsular, o actual território continental português constitui um caso à parte. De todos os reinos ibéricos, foi Portugal o primeiro a alcançar as suas fronteiras definitivas, em 1249, quando o território muçulmano do Algarve foi incorporado na coroa de D. Afonso III, embora já desde o fim do século XII, os nossos reis dominassem a maioria das cidades alentejanas e algumas povoações algarvias.

As fontes medievais testemunham a existência de mouros, sobretudo no Alentejo e no Algarve, mas o seu número era escasso em relação ao dos cristãos e judeus. Os que puderam fugiram para os reinos peninsulares ainda islâmicos ou passaram para o Norte de África, mas houve os que por incapacidades várias tiveram que ficar. Desses, uns foram reduzidos à escravatura, outros puderam viver livremente – os mouros forros continuando com as suas crenças e a sua organização social, contra o pagamento de um imposto.

À medida em que a reconquista cristã avançava, estas comunidades, bem como as judaicas, acantonaram-se em bairros fora dos muros dos castelos das cidades e vilas, nas mourarias ou aljamas que, com o crescimento urbano, vieram a ficar rodeadas por outros núcleos habitacionais cristãos. Ao norte do Tejo, eram poucas, devendo ser a de Coimbra a única significativa, no século XII. No sul, eram mais numerosas, sabendo-se que existiam em Lisboa, Almada, Palmela, Santarém, Évora, Beja e, no Algarve, em Faro, Loulé e Tavira (7)Francisco Marques de Sousa Viterbo, «Ocorrências da vida mourisca», Archivo Histórico Portuguez, Lisboa, 1907, vol. V; António Costa Lobo, A Sociedade Portuguesa no seculo XV, Lisboa, 1904; José Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa, Lisboa, 1958, vol. I; Joaquim Verissimo Serrão, História de Portugal, Lisboa, 1977, vol. I; A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, 12.a ed., Lisboa, 1985, vol. I.. Da análise hoje possível, resulta sabermos que mesmo a mouraria de Lisboa, nos finais de onzecentos, não ocupava mais do que um hectare, dentro das muralhas, ou seja, sete por cento da área total da cidade (8)A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal vol. I, p. 138.. Ao terminar o século XV, quando da ordem de expulsão de judeus e mouros, seriam raros os muçulmanos que ainda viviam em Portugal e os que não abandonaram o país foram sendo integrados

Não há elementos suficientes que nos permitam afirmar que tenham desenvolvido uma arte autónoma, mas conhecemos alguns documentos que atestam que continuaram a desempenhar actividades nos campos da arquitectura, da cerâmica, da carpintaria e das artes dos tecidos.

Em Lisboa, depois da reconquista de 1147, mantiveram no arrabalde duas mesquitas, uma madrasha e uns hammam e o almocávar, mas tudo se perdeu, em breve, por usurpação das populações cristãs e do rei ou por desinteresse dos próprios mouros. É possível que, nestes edifícios, tivessem continuado a praticar as suas formas plásticas tradicionais, mas não temos maneira de o comprovar.

2. A FORMAÇÃO DA ARQUITECTURA MUDÉJAR NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS

Dos vários problemas que se põem na análise do mudéjar português, um dos mais relevantes e o da sua formação, pois não é claro que a arte muçulmana das cidades conquistadas tenha influenciado a produção artística posterior. Mas,

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Desaparecida porta da Genicoca ou da Traição do Castelo de Coimbra (Desenho do sec. XVIII. MNMC)

como nas outras regiões da Espanha, depois do assédio bem sucedido, a mesquita maior era sagrada e erecta em catedral e as restantes mesquitas em paróquias ou dadas às ordens religiosas. Isto mesmo se passou, depois, no Magreb, no século XV, quando das conquistas de Ceuta, Tânger, Alcácer Ceguer, etc. também os alcáceres foram ocupados pelos conquistadores; foi assim em Lisboa, Santarém, Évora, Alcácer do Sal e Beja, importantes cidades hispano-muçulmanas conquistadas no século XII, como fora antes, mais a norte, em Coimbra, em 1064, e seria, no século seguinte, em Silves e Faro. As casas dos populares também foram aproveitadas, ou pelos antigos moradores fugirem, serem reduzidos à escravidão ou mesmo mortos. A estrutura urbana manteve-se durante o resto da Idade Média, pois quando se melhoravam ou faziam de novo as moradias, respeitavam-se os alinhamentos das antigas fachadas e até as saliências dos balcões construídos sobre as ruas.

As remodelações sucessivas dos edifícios civis e religiosos e das muralhas obliteraram as suas características iniciais e só com esforço se conseguem hoje perceber os vestígios desses tempos recuados, que os há, em Mértola, Alcácer do Sal e Silves, por exemplo.

Podemos afirmar que a arquitectura religiosa portuguesa, e desde logo a românica, incorporou elementos muçulmanos, como o alfiz, e esquemas decorativos, em capitéis, fustes, bases colunárias, arquivoltas e frisos, como entrelaçados, estilizações fitomórficas e geométricas, talvez até colhidos na eburnária, na têxtil e na torêutica. Nas estruturas dos castelos, conservam-se portas em cotovelo, como no castelo de S. Jorge de Lisboa, e em arco ultrapassado, nomeadamente, em Castelo Rodrigo, e torres exentas dos muros com passagens superiores ao nível do adarve, como se pode ver em Silves, posto que a que resta esteja muito reconstruída e a sua origem remonte ao tempo de domínio islâmico.

As igrejas góticas, de norte a sul, datáveis com segurança de antes do início do século XV, não conservam tectos de laçaria, trabalhos de gesso, portas ou janelas com arcos ultrapassados, nada do que foi mais típico da arte mudéjar, mas apenas alguns elementos de decoração pétrea e lígnea pintada.

É verdade que a historiografia tradicional pretendeu ver manifestações mudéjares em igrejas e moradias construídas em ladrilho, no Alentejo (9)Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura portuguesa de la Época Manuelina, 2.a ed., Madrid, 1955. , considerando mudéjares os contrafortes cilíndricos e os pináculos cónicos, mas essas formas são apenas e só fruto das características do material, da adaptação de esquemas do gótico às peculiaridades do sul do País. Se um contraforte de granito ou calcário pode ter um desenho quadrangular ou rectangular, em barro torna-se mais resistente se não tiver arestas. É evidente que, desde o tempo da dominação islâmica, se construía em ladrilho, mas foi também em ladrilho que se fizeram as paredes e as abóbadas de muitas das igrejas de estilo renascença e de estilo barroco e, antes, de palácios, basílicas e termas romanas. É natural que os construtores mouros, habituados a usar o ladrilho, tenham continuado a trabalhar com as mesmas técnicas para os senhores cristãos, mas se isso não é suficiente para que se diga que produziram uma arte mudéjar e, menos ainda, que o que hoje se vê, no Alentejo e no Algarve, datável dos séculos XIII, XIV e XV, o seja.

O uso do barro ainda hoje é uma prática vulgar nas construções modestas e foi uma constante até ao aparecimento do betão. Raras eram as casas

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construídas totalmente em pedra, mesmo nas regiões onde ela era abundante. No norte de Portugal, onde o domínio islâmico quase não se fez sentir, encontramos o uso do barro simples ou do barro misturado com pedra, nas paredes fundamentais, e a taipa nas secundárias ou nas que não têm funções estruturais. É verdade que Nicolau de Popielovo disse, quando nos visitou em 1484, que os cristãos de Lisboa, de todo o Portugal e até da Galiza empregavam, segundo o estilo dos infiéis, muito barro nas suas construções (10)Cfr. Viajes de extranjeros por España y Portugal en los siglos XV, XVI y XVII, Madrid, 1878. , mas isso não significa que estivesse em presença de obras de cariz mudéjar.

Talvez não se possa falar de um mudéjar português, naquele sentido em que se fala de um mudéjar aragonês ou de um mudéjar toledano. O que há em Portugal é um conjunto heterogéneo de obras que são fruto da extensão de escolas regionais espanholas, como na raia beirã ou em Caminha, enquanto outras foram determinadas pela persistência da prática da carpintaria mudéjar, em regiões muito delimitadas, como no aro de Coimbra, tendo-se registado ainda um surto ditado por razões estranhas à própria evolução estética, numa época concreta – a manuelina e quase sempre em edifícios régios ou dos grandes do reino.

3. ELEMENTOS TÍPICOS DA ARQUITECTURA MUDÉJAR PORTUGUESA

Temos de ter em conta que uma das características fundamentais da arquitectura mudéjar, de todas as suas escolas regionais, é a indissociabilidade das estruturas da decoração. Como já na arquitectura hispano-muçulmana, o ornamento é sua parte integrante, quando não mesmo fundamental.

Já deixamos dito o que não podemos classificar como mudéjar – pináculos cónicos, contrafortes cilíndricos, ameias trapezoidais – e dissemos porque, faltando agora ver, um a um, os elementos mudéjares, já libertos da sua primitiva carga étnica. Apesar de não concordarmos com a totalidade das classificações de Perez-Embid, seguimos o seu esquema, irrepreensível do ponto de vista metodológico (11)Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura portuguesa de la Época Manuelina, p. 177 e segs. As nossas opiniões não divergem, fundamentalmente, das enunciadas por José Custódio Vieira da Silva no seu livro O tardo-gótico em Portugal. A arquitectura no Alentejo, Lisboa, 1989, p. 15 e segs. , mas não distinguiremos elementos estruturais de elementos ornamentais.

As paredes e os muros dos edifícios mudéjares não se diferenciam dos restantes, usando-se a alvenaria ou o aparelho granítico e calcário, segundo as regiões, ou ainda o ladrilho nas terras alentejanas e nos exemplares transmontanos de influência leonesa, como em Castro de Avelãs. Também os contrafortes, os pilares, as mísulas e os capitéis são os mesmos dos outros edifícios do mais puro românico ou do gótico mais francês.

Alçado sul da galeria das damas do palácio de D. Manuel I de Évora. (Desenho da DGMN). Ajimeces do andar nobre e arcos ultrapassados simples do andar térreo

É nos vãos que o mudéjar, em Portugal, se distingue. O uso do arco ultra-semicircular ou ultrapassado – também impropriamente chamado de ferradura – é uma das suas características. Aparece, frequentemente, integrado num alfiz de traçado rectangular, como nos pátios do leão ou da audiência do paço de Sintra, ou terminando em linha conopial, como na sala do capítulo do Convento dos Lóios, de Évora.

Em janelas e portais, esses arcos são, por vezes, duplos, os ajimeces de origem ainda visigótica, com mainel médio e com pequenos capitéis marmóreos de importação. Nem todos estes alimeces com alfiz têm os arcos ultrapassados; assim e no paço da vila de Sintra, onde não há um único,

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posto que os haja peraltados, como na varanda da sala das sereias. O intradorso destes arcos apresenta também, nalguns casos, um denteado, que pode ser de pedra talhada ou de ladrilho, como na galeria das damas do paço de D. Manuel e nos arcos do paço dos Vimioso, respectivamente.

Janela da fachada sul – ajimes de vãos de volta perfeita – do palácio da vila de Sintra (Desenhos de E. Casanova. 1903)

No núcleo alentejano, as arquivoltas tanto são de granito, como na Sempre Noiva e no piso nobre paço real eborense, como de ladrilho, nomeadamente, no castelo de Alvito e no solar da Água de Peixes, mas podem ter colunelos laterais ou mainéis de mármore. Mais raramente, associam uma decoração de cariz vegetal e naturalista, o que acontece numa varanda do Convento da Conceição, de Beja.

Mais raros que os arcos ultra-semicirculares são os arcos lanceolados, mas que existem, como na muralha de Castelo Rodrigo e no vão mais à direita do pórtico avançado da igreja de S. Francisco de Évora.

Muito típicos são os tectos de lacaria geométrica, de par y nudillo, como se chamam em

Espanha; isto é, com esteira central e duas abas, como na igreja Matriz de Caminha. É nessa esteira central que se desenvolvem as estrelas e entrelaços e se abrem, por vezes, pequenas cúpulas preenchidas com pendentes, elementos que semelham estaglatites e que se designam nos documentos

Ajimes do Solar de Água de Peixes

do tempo por almocaravezes. Os tirantes apoiam-se em cachorros escalonados com figuras fantásticas e têm nas ligações construções poligonais, tudo profusamente decorado. Entre nós, a generalidade dos tectos de lacaria é plana, mas o da capela de Sintra tem a forma de abóbada de meio canhão.

Nas coberturas de abóbada de arestas, raríssimas, usam-se as de estrelas, mas que não se cruzam no centro, como no piso nobre da torre de menagem do castelo de Beja.

Ameias tipicamente mudéjares, entre nós, são apenas as que descendem das do muro sul da Mesquita de Córdova, escalonadas e que apenas encontramos no paço de Sintra, no paço de Ribafria e na igreja Matriz de Mértola (12)Basilio Maldonado Pavón, Las almenas decorativas hispanomusulmanas, Madrid, 1967. Estas ameias compostas por triângulos sobrepostos invertidos aparecem com pequenas alterações também no Médio Oriente, no Egipto, por exemplo, nos mausoléus de Baybars al-Gushankir e de Tachtamur, do século XIV, claramente inspiradas nos protótipos peninsulares de Medinat al-Zahara..

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Desenho do tecto da capela do paço da vila de Sintra (E. Casanova)

Tirantes do tecto da igreja Matriz de Seixo da Beira

Elemento fundamental para criar um ambiente mudéjar foi o azulejo. Como veremos adiante, a sua importação de Valência e de Sevilha foi frequentíssima, pois era essa a forma mais fácil de aderir à moda em voga. Usaram-se as rajolas e os alfardones levantinos no chão, como no paço de Beja, ou composições alicatadas, nomeadamente na capela palatina de Sintra e no chamado quarto de D. Afonso VI, do mesmo palácio. Em Portugal encontram – se mais de cem núcleos,

Núcleo manuelino do paço da vila de Sintra com ameias escalonadas

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cobrindo todos os tipos e padrões, de aresta e de corda seca, em relevo, com desenhos geométricos de raiz muçulmana, vegetalista e gótica ou mesmo renascentista, com urnas e candelieri, ou em revestimentos completos, como se fez na Sé de Coimbra, ou como frontais de altar, de que há largas dezenas, ou em alizares de grandes dimensões, como se vê na sala capitular do Convento de Nossa Senhora da Conceição, de Beja.

Revestimento azulejar da Sé Velha de Coimbra, antes das obras de restauro, cerca de 1890

Mudéjares, bem dentro da tradição muçulmana, são as gelosias, em barro e ladrilho vermelho, como as do paço dos infantes de Beja, hoje no Museu local, ou em adobe e caiadas de branco, como no quase totalmente desaparecido paço dos Estaus de Évora. Os trabalhos de gesso, no entanto, não parece terem tido procura em Portugal, conhecendo nós apenas um exemplo, na Sé Velha de Coimbra.

De claro recorte mudéjar são ainda alguns elementos incorporados em edifícios que na estrutura e no essencial da decoração seguem o românico e o gótico. Dada a sua vastidão, destacamos apenas os arquilhos ultra-semicirculares dos intradorsos das arquivoltas de portais, os esquemas geométricos e de entrelaçados contínuos de frisos em portadas, frestas ou até bandas murárias, escamados de colunelos , composições de cubos alternantes e modilhões tubulares justapostos, todos com largo uso na decoração muçulmana omeida e almóade.

4. A PRESENÇA DE ARTISTAS E ARTÍFICES MOUROS EM PORTUGAL

Os documentos portugueses que testemunham o trabalho de muçulmanos no território cristão são poucos, como noutros lugares já tivemos ocasião de demonstrar (13)Pedro Dias, «O mudejarismo na arte coimbrã. Seculos xv e XVI.», Arquivo Coimbrão, Coimbra, 1979; e «A viagem de D. Manuel a Espanha e o surto mudejar na arquitectura portuguesa», Actas do Simpósio Relaciones Artisticas entre Portugal y España, Salamanca, 1986.. O emprego de cativos nas obras de fortificação e até de outro carácter deve ter sido comum; ocorreu em 1057, em Lamego, na reconstrução de várias igrejas e, em Coimbra, na Sé Velha, já depois de 1164.

Mas houve mouros que ocuparam cargos elevados e não apenas servis, como o que foi mestre das obras do Castelo de Alandroal, no fim do século XIII, que a si mesmo se chamou Mouro Calvo, na lápide evocativa do feito.

Em 1414, por uma reclamação do concelho de Santarém, sabe-se que eram empregues dez mouros nas obras públicas da vila.

Vários oleiros e oleiras, tapeceiros e azulejadores estão documentados nos dois últimos séculos da Idade Média, mas é de salientar a nomeação, por D. Afonso V, em 1466, do carpinteiro mouro castelhano Azmede, como paceiro dos paços reais de Évora (14)F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico e documental dos architectos, engenheiros e construtores portuguezes ou ao serviço de Portugal, Lisboa, 1899-1922, vol. II, p. 42 e segs.. Também não deixa de ser curioso que a rainha viúva D. Leonor, em 1498, ainda mantivesse ao seu serviço um azulejador muçulmano a que os documentos chamam, castiçamente, al-Azulejo (15)F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico …», vol. III, p. 152..

Como noutras regiões da Península, as manifestações artísticas mudéjares portuguesas perderam as conotações étnicas e, pelo menos nos séculos XV e XVI, eram feitas por cristãos. O chamado Livro Truncado do Almoxarife André Gonçalves, referente às obras de remodelação do paço da vila de Sintra, anota que, no ano de 1508, o carpinteiro João Cordeiro era «… mestre das ditas obras dos paços nos ditos servyços e em fazer rrossas pera a capella e Estrellas e Rezimbros pera a dita Capella» (16)Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Lisboa, 1903, p. 235 e segs.. Ora, esse tecto é a mais importante obra de carpintaria mudéjar que se conserva e foi, muito provavelmente, a melhor que se fez nesse tempo, ou não se tratasse do segundo palácio real. Outro companheiro dessa empreitada era igualmente cristão, chamava-se

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Restos de um tecto de laçaria do antigo paço episcopal de Coimbra (MNMC)

Fernão Cordeiro e também fazia laçarias, como atesta a documentação.

Um documento mais antigo, datado de 1450, referente a um crime cometido em Évora por um jovem, elude a que este era bom carpinteiro, «… de obra de laço e cousas subtis de carpintaria …» (17)F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico …» vol. I, p. 420 e segs. , o que, a nosso ver, é uma alusão aos tectos mudéjares. Alguns termos que aparecem, esparsamente, na documentação quatrocentista, deixam perceber obras deste tipo. Assim, em 1413, o pintor João Martins, a trabalhar no coro da Sé Velha de Coimbra, contraiu a obrigação «… de dourar o almocaravez douro fino...» (18)Prudêncio Quintino Garcia, Artistas de Coimbra, Coimbra, 1923, p. 1..

A maioria dos edifícios medievais, civis, religiosos e militares desapareceu, pelo que é sempre arriscado tirar conclusões a partir daqueles que chegaram até nós, porque estes também foram muito modificados.

Portal e ajimeces da sala capitular da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães

5. AS PRIMEIRAS OBRAS DE ARQUITECTURA MUDÉJAR EM PORTUGAL

É difícil precisar o que é claramente mudéjar na decoração arquitectónica românica; certamente que o são os motivos escamados e geométricos do portal da Sé Velha de Coimbra (19)Vergílio Correia, «O contributo mussulmano na arte românica», Obras, vol. II, Coimbra, 1949, pp. 44-45. ; as arquivoltas do portal axial da igreja de S. Pedro de Ferreira, estilisticamente próximas das de uma das portas da Catedral de Zamora e do portal da igreja de San Martín de Salamanca; e os ajimeces das duas janelas e o portal da sala capitular da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, de Guimarães.

Cabeceira da igreja do Mosteiro de Castro de Avelãs

Mas, obra verdadeiramente digna de registo é o Mosteiro de Castro de Avelãs, na região transmontana. Data já do início do século XIII, tem três capelas de eixos paralelos de ladrilho íntegras e o resto das fundações das naves (20)Carlos Alberto Ferreira de Almeida, O Românico, (História da Arte em Portugal, vol. 3, Alfa), Lisboa, 1986, p. 103 e segs.. De todas as igrejas de estilo românico e gótico arcaizante que se conservam junto à fronteira luso-leonesa é a única deste estilo, pelo que temos de aceitar ser fruto de uma campanha de obras de mestres oriundos de Toro, Zamora, Sahagún, León, do aro de Valladolid ou mesmo de Segóvia.

Na cabeceira, nos dois primeiros níveis de arcadas cegas, os vãos caem na mesma prumada, ao contrário do terceiro e mais alto, cujos contrafortes assentam sobre o fecho dos segundos arcos. Pode hoje ver-se o resultado de campanhas arqueológicas que revelaram todo o flanco esquerdo do corpo, também de ladrilho e com contrafortes

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exteriores que se ligavam a pilastras interiores adossadas. O nível actual do solo está cerca de dois metros acima do original e resultado da reforma setecentista que também diminuiu consideravelmente a área do templo. O absidíolo da direita arruinou-se, mas foi ainda possível recuperá-lo, até porque não perdeu o arco da entrada e grande parte do arranque das abóbadas. O da

Capela lateral direita da cabeceira da igreja do Mosteiro de Castro de Avelãs

esquerda está em melhor estado, pois passou a servir de sacristia. Este desnível transmite uma ideia errada da igreja que tinha maior altura e uma outra elegância, não sendo tão atarracada quanto parece. No interior, a abóbada da capela-mor é reforçada por arcos torais.

O mestre ou mestres construtores eram homens hábeis e muito habituados a usar o ladrilho, pois para além da robustez das estruturas, souberam jogar com ele para conseguir efeitos plásticos.

Fica claro que os monges desejaram uma obra grandiosa e talvez esse fosse o motivo para recorrer ao mais próximo centro artístico importante, pois Braga, o Porto ou Coimbra estavam mais longe e tinham piores acessos. Este intercâmbio raiano fez-se sentir em todas as épocas históricas, miscigenando fecundamente as artes dos dois países.

Capela lateral esquerda da cabeceira da igreja do Mosteiro de Castro de Avelãs

A igreja do Mosteiro de Castro de Avelãs foi, durante muito tempo, a mais importante da região e esteve na origem do desenvolvimento da futura cidade de Bragança, pelo que é natural que tenha influenciado outras igrejas, podendo ver-se alguns vestígios de obras que se têm de atribuir a mestres que estiveram naquele estaleiro beneditino. Nenhuma está íntegra, mas adivinha-se o uso do ladrilho à maneira mudéjar. Lembremos a ábside da igreja de S. Vicente, com uma forma muito estranha, composta por três segmentos de círculo;

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Cabeceira da igreja do Convento de S. Francisco de Bragança

Cabeceira da igreja de S. Vicente de Bragança

conserva duas frestas de ladrilho, de arco de volta perfeita, exactamente como as que se vêem na ábside da igreja do Convento de S. Francisco, onde também há os mesmos contrafortes naquele material. Logo um pouco acima, em Santa Maria, cuja estrutura foi também profundamente alterada, notam-se arcos e panos de muro de ladrilho.

A impressão que fica, e não é mais que uma impressão, é que Castro de Avelãs marcou profundamente toda a arquitectura bragançana dos séculos XIII e XIV e até talvez dos imediatamente seguintes.

No âmbito da arquitectura militar do período de vigência da arte românica também há elementos mudéjares. Em Coimbra, conserva-se uma porta de duplo vão da desaparecida cerca do paço episcopal que sabemos estava em construção em 1128. Tem um duplo arco-ultrapassado e um espaço entre as duas faces, para permitir o funcionamento dos batentes. Por um desenho antigo, sabemos que, pelo menos, mais uma das portas que havia na cidade tinha feição muçulmana. Outra porta com esta forma era a porta da Traição ou da Genicoca, destruída no século passado, mas de que há um desenho setecentista. É verdade que já existia antes da conquista definitiva, em 1064, mas como Nogueira Gonçalves bem sugeriu é, mais provavelmente, fruto das obras de reconstrução de 1108, do tempo do governo de D. Teresa (21)António Nogueira Gonçalves, Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, 1947, p. 4..

Uma das portas de Santarém, reproduzida nos selos pendentes medievais da Câmara dessa importante vila tagana, já do século XIV, possuía também um arco ultrapassado muito acentuado entre duas fortes torres, tanto podendo ser muçulmana como mudéjar, o que é mais provável.

Desta época, ficaram outras portas e frestas de arco-ultrapassado incluídas em castelos: na torre do de Trancoso, na cisterna do de Castelo Rodrigo, na torre da cadeia de Alandroal, posto que nalguns casos se possa tratar de construções ainda do tempo de domínio agareno.

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Estes elementos, embora sejam pouco numerosos e de reduzidas dimensões, obrigam-nos a levantar a questão das causas da permanência dos modos de fortificação muçulmana, em pleno

Porta da cerca do antigo paço episcopal de Coimbra

período de domínio cristão. Uma das hipóteses plausíveis de explicação é a do emprego sistemático de mestres mudéjares que, como já vimos, aconteceu em Alandroal. Outra é a de um certo fascínio pelos elementos mais típicos da arquitectura árabe, que os perpetuaria, mesmo entre os construtores cristãos.

6. A ARQUITECTURA MUDÉJAR QUATROCENTISTA

Do período de vigência do gótico também há exemplos de influência mudéjar em edifícios cristãos: é o caso dos arquilhos ou lóbulos ultrapassados dos portais da igreja do Convento de S. Francisco, do Porto, da igreja do Convento de S. Francisco, de Santarém e do portal lateral da igreja do Mosteiro da Batalha, todos já do início do século XV (22)Pedro Dias, A arquitectura gótica portuguesa, Lisboa, 1994, p. 119 e segs..

Fresta da torre da cadeia do Castelo de Alandroal

Uma construção que foge completamente aos esquemas comuns na arquitectura gótica religiosa quatrocentista é a capela de D. João Vicente da Sé de Viseu, situada no prolongamento do braço direito do transepto. Podemos datá-la de entre 1446 e 1463. Tem planta quadrangular e além dos arcos cruzeiros completos; outros saem emparelhados, dois a dois, do meio das paredes de flanco, encontrando-se no centro, num feixe dominado por uma nervura circular. Se os arcos cruzeiros assentam em colunas encostadas nos ângulos, os outros partem de mísulas muito simples, individuais e a meia altura dos muros. Esta abóbada tem, pelo menos, uma origem remota mudéjar.

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Idêntica situação verifica-se em Beja, na abóbada do segundo piso da torre de menagem do castelo, datável do reinado de D. João I, já do início do século XV. Conforma-se como uma grande estrela de oito pontas, saindo de cada uma três nervuras, das quais apenas uma cruza o centro. As restantes formam outra, mais pequena, com oito raios. É um caso único em toda a arquitectura portuguesa.

Abóbada do andar nobre da torre de menagem do Castelo de Beja

No flanco sul da torre, ao nível da abóbada estrelada e comunicando com a escada de acesso, há também uma abertura com um arco ultra-semicircular, apenas com função de iluminação, já que não tem parapeito nem balcão. No entanto todas as outras portas e janelas têm arcos de traçado gótico.

Em Guimarães, conservam-se testemunhos daquela que terá sido uma das mais importantes obras mudéjares portuguesas, a cobertura da igreja Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Só em 1970 é que foram postas a descoberto as pinturas do tecto e parte da estrutura que se podem datar do final do século XIV ou do início do seguinte (23)«Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães», Boletim dos Monumentos, n.o 128, Lisboa, 1981.. A origem deste templo remonta a vários séculos antes, mas interessa-nos agora apenas a sua reconstrução iniciada por D. João I, em 6 de Maio de 1387, e terminada, no essencial, em 1401, pois foi sagrada a 23 de Janeiro desse ano, como consta de uma lápide que se conserva no local. No entanto, dez anos depois, ainda decorriam trabalhos. O seu mestre foi João Garcia de Toledo, como o nome indica, um castelhano,

o que não deixa de ser irónico, já que esta empreitada se destinou a comemorar a vitória na batalha de Aljubarrota, exactamente sobre D. João I de Castela.

Noutra dependência da Colegiada, na casa dos Priores, existe um outro tecto mudéjar, com uma estrututa muito simples e que está já bastante restaurado, vendo-se apenas as vigas dos cantos em espinha. Alfredo Guimarães, no entanto, ainda o conheceu com vestígios de policromia (24)Alfredo Guimarães, Mobiliário artístico português. Guimarães, Guimarães, 1935, p. 82-83.. Não poderá datar de época muito distante daquela em que se fez a cobertura das naves e transepto da igreja.

Voltando ao templo, nada encontramos de mudéjar da esteira central nem das abas, mas há ainda restos do conjunto dos tirantes e dos cachorros. A temática é variada, podendo dividir-se do seguinte modo: cenas religiosas, heráldica, cenas militares, cenas civis, simbólica e motivos decorativos (25)Horácio Bonifácio, Luís Manuel Teixeira e Pedro Gomes Barbosa, «Da temática da decoração. Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães», Boletim …, n.o 128, p. 49 e segs.; Horácio Bonifácio, «Alguns aspectos da iconografia religiosa nas tábuas dos tectos de Santa Maria da Oliveira», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 367 e segs.; Pedro Barbosa, «A simbólica do Mal nas pinturas da Colegiada de Guimarães», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 477 e segs.. Não há vestígios de inscrições, como nalguns tectos mudéjares espanhóis, nem elementos iconográficos claramente vinculados ao mundo árabe ou islamizado, exceptuando cavaleiros agarenos em cenas guerreiras com cristãos. No entanto, quer o colorido quer as composições fitomórficas quer a heráldica, denotam proximidades claras com a pintura mudéjar contemporânea (26)Basilio Pavón Maldonado, Arte toledano: islamico y mudéjar, Madrid, 1973, p. 231 e segs.. O bestiário apoia-se na tradição moçárabe, mas os autores pintaram cenas da vida de Nossa Senhora e outras que evocam, muito provavelmente, as vitórias guerreiras de D. João I. Identificaram-se já os escudos heráldicos das linhagens dos Vasconcelos, Sá, Albuquerque, Portocarrero ou Peixoto, Correia, Fonseca, Coutinho, Tavares ou Resende, Avelar, Baião, Sousa, Silva e Azevedo, entre outros, além dos próprios do rei, e os evocativos de S. Jorge e das ordens militares de Cristo e Avis (27)Luís Ferros, «A decoração heráldica do tecto da igreja Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 383 e segs..

A questão da autoria desta obra é complexa. Sabemos quem foi o mestre de obras, o tal João Garcia de Toledo, mas não o pintor. Nesta época, estão documentados dois a trabalhar na vila, Gonçalo Domingues e João Garcia. É curiosa a tradição local, veiculada por Gaspar Estaço (28)Gaspar Estaço, Várias Antiguidades de Portugal, Lisboa, 1625, p. 178. , que diz que D. João I mandou para as obras de Santa

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Maria da Oliveira cem cativos castelhanos, o que a ser verdade poderia explicar a fácies mudéjar das coberturas.

Tecto da nave central da igreja colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães

Três pormenores da pintura dos tirantes e do friso 6 da igreja colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães

Na Catedral de Braga, há outra interessantíssima obra de pintura mudéjar: a decoração parietal da capela de Nossa Senhora da Glória, onde repousa, num magnífico túmulo trecentista de pedra de Ançã, o arcebispo D. Gonçalo Pereira. Há documentação que atesta que a capela foi afrescada logo no século XIV e, através das sondagens feitas pelos serviços oficiais, que conscienciosamente deixaram uma zona em que são visíveis as diversas camadas cromáticas, pode confirmar-se isso mesmo. Não sabemos quase nada sobre essa primeira empreitada, ao contrário da segunda, quando se optou por um programa hagiográfico tradicional. A última, a que está hoje visível, de carácter indiscutivelmente mudéjar, é já posterior ao reinado de D. João II, pois o brasão de Portugal, que está em lugar de grande destaque na parede esquerda, é já o que resultou da reforma do Príncipe Perfeito. Em frente, na parede da direita, fica o brasão dos Pereira, também pintado. As paredes estão afrescadas com esquemas geométricos idênticos aos usados nos azulejos sevilhanos do final do século XV, o que permite também reforçar a datação que agora propomos.

7. O MUDÉJAR DO NÚCLEO COIMBRÃO, NOS SÉCULOS XV E XVI

Na cidade de Coimbra e no seu aro o gosto pela arte mudéjar manifestou-se durante todo o século XV e na época manuelina. Já antes aludimos à obra do pintor João Martins, mas além de documentação temos restos de diversas obras de carpintaria.

Uma é o coro-alto da Sé Velha, desmanchado em 1894, mas de que há um registo gráfico e partes dele no Museu Nacional de Machado de Castro (29)António de Vasconcelos, A Sé Velha de Coimbra, Coimbra, 1930, vol. I, p. 166.. Interessam-nos os dois tectos que ficavam sobre a entrada, de que estão expostas duas partes, ambas com perto de seis metros de comprido, por quatro metros de largura. O estado de conservação da madeira é bom, embora a pintura esteja muito sumida, mas notam-se vestígios de douramento que devia ser intenso e de uma composição geométrica. Há ainda tábuas laterais belamente

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Restos do antigo tecto do coro-alto da Sé Velha de Coimbra (MNMC)

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pintadas e com inscrições góticas que, por estarem cortadas ao meio, longitudinalmente, não se podem ler. Conhece-se, no entanto, a data de execução, 1469 (30)Pedro Dias, «O mudejarismo na arte coimbrã. Séculos XV e XVI»..

Mas, na Sé Velha de Coimbra a ambiência mudéjar era dada também pela cobertura das paredes com azulejos hispano-árabes. A sua compra está documentada, sabendo-se que foi o escultor flamengo Olivier de Gand, que trabalhou em Toledo até 1499, quem foi a Sevilha, ao bairro de Triana, comprá-los a Fernan Martinez Quijarro e Pedro de Herrera (31)Reinaldo dos Santos, O azulejo em Portugal, Lisboa, 1957; J. M. dos Santos Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Lisboa, 1969; Rafael Calado, Cinco séculos de Azulejos em Portugal, Lisboa, 1980; José Meco, O azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; Maria José Goulão, «A cerâmica de uso e os azulejos manuelinos», História da Arte em Portugal (Ed. Alfa), vol. 5, p. 155 e segs.. De alto a baixo, incluindo os pilares das naves, tudo brilhava com os reflexos de velas e candeias ou dos raios de luz vindos do exterior. O bispo D. Jorge de Almeida encomendou ate o seu brasão aos referidos oleiros sevilhanos, espécie que se guarda no Museu Nacional de Machado de Castro. Foi a moda purista dos restauros do fim de Oitocentos que levou à destruição da maior parte deste conjunto verdadeiramente único.

O impacto na cidade e na região desta aplicação de azulejos foi enorme e raras foram as igrejas que não as tiveram, ou mesmo as casas mais importantes, como a de Sub-Ripas. Citemos apenas os conventos de Santa Clara, de Celas e de S. Paulo de Almaziva, e as igrejas de S. Mateus, de Botão, de Santa Cecília, de Benfeita, de Nossa Senhora da Alcáçova, de Montemor-o-Velho, de Santo António da Cerdeira, de S. Pedro de Cantanhede, de S. Miguel de Castelo Viegas, de S. Miguel de Ribeira de Frades, de Nossa Senhora das Virtudes, de Gatões, de Nossa Senhora da Conceição, de Carvalho, de Santa Eufémia, de Penela, de Nossa Senhora da Purificação, de Samuel, de Santiago, de Soure, de Torre de Vale de Todos, e nas capelas da Varziela, e do paço de S. Silvestre.

Não se pode deixar de ligar aos tectos mudéjares da Sé Velha outros do paço episcopal conimbricense de que há apenas alguns fragmentos, que aí se guardam, dado que o edifício foi aproveitado para Museu, em 1911. São idênticos aos da Sé, denunciando um mesmo mestre ou uma mesma companha.

Tecto da torre da antiga casa do arcipreste Amaral de Coimbra

Outro tecto mudéjar conserva-se numa torre junto à igreja românica do Salvador, conhecida como torre do arcipreste Amaral. O espaço é quadrangular, com pouco mais de cinco metros de lado, transformando-se a cobertura numa forma oitavada com as ripas a entrecruzar-se e a deixar livre uma pequena cúpula central cheia com almocaravezes pendentes (32)Poderá ter sido mudéjar algum dos tectos da casa de Sub-Ripas, como noutro artigo sugerimos, mas foram todos demasiadamente adulterados para podermos ter certezas..

Mudéjar era a cobertura da igreja de S. Tiago, de Soure, conforme se conclui pelo texto da visitação feita em 4 de Março de 1508, onde se diz: «virom outra egreja nova que el rrey nosso senhor de novo mandou faser da invocaçom de Santiago e estaa na praça da dita villa a qual egreja he feita em tres naves, alta e bemfeita e ornada assaz, olivellada de mourisco e pintada …» (33)Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo de 1507 a 1510. Aspectos artísticos, Coimbra, 1979, p. 61.. O olivel de mourisco desapareceu em reformas posteriores, guardando-se apenas três cachorros mudéjares com restos de policromia no Museu de Coimbra. Sabe-se, por uma lápide conservada, que a igreja estava acabada em 1490, tendo sido a sua reforma da iniciativa de D. Manuel, então ainda duque de Beja e administrador da Ordem de Cristo, a que a comenda de Soure pertencia.

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Cachorros do desaparecido tecto da igreja de S. Tiago de Soure (MNMC)

Para além desta igreja, outra situada muito próximo pode integrar-se neste núcleo coimbrão, a da antiga vila de Redinha, também uma comenda da Ordem de Cristo. Visitada em 15 de Março de 1508, os visitadores encontraram-na quase destruída, pelo que mandaram fazer diversas obras, «… a capella forrada de castanho e a madeira de castanho muito meuda, o olivel mourisco que cubra as custuras das tabuas …» (34)Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo …, p. 136.. Toda esta cobertura desapareceu.

Retábulo e pequeno armário em gesso da capela-mor da Sé Velha de Coimbra. Hoje, no Museu Nacional de Machado de Castro (Desenho de Teixeira de Carvalho)

Há uma obra na cidade de Coimbra que tem enorme valor pela sua raridade; trata-se de um retábulo em gesso com um armaríolo, de traçado flamejante, mas técnica e gosto mudéjares que se encontrava na parede esquerda da capela-mor da Sé Velha. Está hoje recolhido no Museu Machado de Castro, mas António de Vasconcelos reproduziu na sua memorável monografia sobre a catedral coimbrã (35)António de Vasconcelos, A Sé Velha de Coimbra, vol. I, p. 176. O desenho foi feito por Teixeira de Carvalho, quando da sua descoberta, sob a talha, em Julho de 1893. um desenho com ele in situ. Trabalho muito idêntico pode ver-se no púlpito mudéjar de Santa Maria de Becerril de Campos, obra de Alonso Martinez (36)Pedro J. Lavado, «Púlpitos mudéjares de yeso», Revista del Instituto Egipcio de Estudios Islamicos en Madrid, vol. XX, Madrid, 1979-1980, p. 145 e segs. , no da ermida de Cristo de Torremarte, datado de 1492, no de Santo Hipólito e no de São Miguel de Támara, no claustro das clarissas de Calabazanos, nas abóbadas do claustro de San Fernando das Huelgas de Burgos, e até na capela funerária dos Sarmiento, na ante-sacristia de São Francisco de Palência (37)Pedro J. Lavado, «El arte mudéjar desde la visión castellana», Actas do II Simposio Internacional de mudéjarismo: Arte, Teruel, 1982, p. 23 e segs.; Pedro J. Lavado, «Las yeserias mudéjares en Castilla la Vieja y León», Actas do V Simpósio Internacional de Mudéjarismo, Teruel, 1992, p. 399 e segs.. Estas obras espanholas permitem datar a coimbrã do final do século XV ou mesmo já do início do século seguinte.

8. A VIAGEM DE D. MANUEL I A ESPANHA, EM 1498, E O SURTO MUDÉJAR NO INÍCIO DO SÉCULO XVI

Nada mais do que existe de mudéjar pode ser datado, com segurança, de antes de 1495. A diferença entre o número das obras conservadas de uma época relativamente curta, que durou de dois ou três séculos, e as suas características muito peculiares, levam-nos a crer que houve factores externos e fortuitos que potenciaram este surto, nomeadamente, a impressão que a arte mudéjar causou a D. Manuel I, quando da sua viagem de 1498 a Espanha (38)Pedro Dias, «A viagem de D. Manuel a Espanha e o surto mudéjar na arquitectura portuguesa», pp. 111-128..

Convirá ter presente que o rei, quando era ainda de tenra idade, já lá estivera, acompanhado até pela sua ama de leite D. Justa Rodrigues. Voltou a Castela, em 1483, «… pera andar na coroa dos reis, atte ho tempo em que se hauiam de fazer hos casamentos do Principe dom Afonso, e da Princesa doña Isabel» (39)Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, nova edição conforme a de 1566, Coimbra, 1949, Parte I, cap. V.. Mais tarde, o monarca voltaria a pisar solo da coroa de Castela, quando foi em peregrinação a Santiago de Compostela,

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mas, nessa altura, não teve contactos com obras mudéjares significativas, pois na Galiza são escassas.

Outra realidade pode também ter contribuído para a divulgação deste gosto, concretamente a fuga de grande parte da alta nobreza para Castela, quando da conjura contra D. João I. Diversas famílias estabeleceram-se em Sevilha, só voltando depois de 1495.

Lembremos as razões do périplo de 1498 por terras da coroa de Castela. D. Manuel tinha-se casado com D. Isabel, filha dos Reis Católicos e viúva do infante D. Afonso de Portugal, herdeiro legítimo de D. João II. Por sua vez, a infanta espanhola ficou a natural sucessora dos seus progenitores, devido à infaustosa morte do irmão, o infante D. João. Reunidas as cortes gerais em Lisboa e elevada à regência a rainha D. Leonor, o casal régio partiu para Castela, a 29 de Março (40)Garcia de Resende, Chronica dos valerosos e insignes feitos del Rey Dom Ioam II, Coimbra, 1798 (ed. fac-similada, Lisboa, 1973), p. 297 e seas.; Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Parte I, cap. XXVI e segs..

A comitiva era composta por cerca de trezentas personalidades, e incluía os principais nobres, os membros do conselho régio e numerosos servidores. Dentre a nobreza, podemos destacar D. Jorge, o poderosíssimo Mestre da Ordem de Santiago, filho natural de D. João II; D. Álvaro, irmão do supliciado D. Fernando, duque de Bragança; D. Dinis, irmão do duque de Bragança D. Jaime, que ficou em Portugal a auxiliar a Regente; D. João de Meneses e Rui de Sousa homem do maior valimento na corte; o futuro conde de Vimioso, D. Francisco de Portugal; o marechal D. Fernando Coutinho; e até D. Francisco de Almeida, da Casa de Abrantes, que seria vice-rei da Índia. No regresso, alguns destes fizeram importantes obras mudéjares nos seus palácios.

Ainda em território português, a comitiva passou por Évora, Estremoz e Elvas, entrando em Espanha por Badajoz, onde foram recebidos pelo duque de Alba, o conde de Féria, o bispo de Placência e o duque de Medina Sidónia. Embora a recepção se tenha revestido de grande solenidade não houve grandes festejos, dado ainda se manter o luto pelo príncipe D. João.

De Badajoz, D. Manuel I passou a Teveriola, seguindo daí para o Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe. Chegou no Domingo de Ramos a Mérida e, àquela famosa casa dos monges jerónimos, na Quarta-Feira de Trevas. Devemos recordar que a rainha D. Isabel acabara de reformar profundamente o seu palácio, onde o nosso monarca ficou instalado, com um programa claramente mudéjar. Depois, fez o caminho por Talavera de la Reina até Toledo, onde ocorreu o primeiro encontro entre os régios casais. Na Catedral, D. Manuel I e D. Isabel foram jurados herdeiros do trono dos Reis Cató1icos, ficando algum tempo na cidade, nas casas de Garcillaso de Vega e de Pero Lopez de Padilla, como atesta Garcia de Resende, preparadas para o efeito. Aí, visitaram edifícios notáveis, como o alcácer real e o paço arquiepiscopal.

As obras mudéjares estiveram sempre presentes aos olhos de o Venturoso e dos seus acompanhantes e, certamente, dos artistas que forçosamente seguiam o seu senhor.

Saindo de Toledo, a comitiva portuguesa lançou-se na estrada para Aragão, passando por cidades e vilas onde a arte mudéjar também tinha grande peso, o caso de Chinchón, onde ficaram quatro dias no palácio do marquês de Moy, Alcalá de Henares e Guadalajara, tendo visitado o palácio dos duques do Infantado, iniciado, em 1480, por D. Iñigo Lopez de Mendoza, ocupado desde dois anos antes e em cujas obras trabalharam muitos artistas mouros (41)António Herrera Casado, El palacio del Infantado, Guadalajara, 1975.. Mas, foi no palácio do poderoso cardeal D. Pedro Gonçalves de Mendonça, quinto filho do marquês de Santillana e conhecido como el tercer rey de España, que o rei português descansou três dias.

Em seguida, D. Manuel visitou Calatayud e Saragoça. Em Saragoça ficou «… em huns singulares paços, e cazas de prazer, que el Rey tem fora da Cidade, a que chamam aljoufaria ….», como pitorescamente escreveu Garcia de Resende, uma das principais moradas mudéjares da Espanha, cuja origem remontava ao período dos reinos das Taifas.

Foi aqui que esta viagem triunfal, que devia continuar por Barcelona, Valência e Sevilha, se transformou em drama, dado que, no dia 24 de Agosto

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desse ano de 1498, a rainha D. Isabel faleceu, após dar à luz o seu primeiro e único filho, a quem foi dado o nome de D. Miguel da Paz, que passou a ser o herdeiro de todas as monarquias ibéricas. Depois de ver o seu primogénito jurado pelos grandes de Espanha, D. Manuel empreendeu a viagem de regresso, com rapidez e sem pompa, deixando o recém-nascido aos cuidados dos avós maternos. Passou por Aranda de Duero, a caminho da fronteira da comarca da Beira, entrando em Portugal por Almeida e seguindo por Lamego e Coimbra, até Lisboa.

Este surto mudéjar manuelino – e permita-se-nos chamar-lhe assim – produziu edifícios que diferem significativamente dos seus contemporâneos espanhóis. Não se encontram em Portugal as torres das igrejas de Aragão, nem o precioso labor de ladrilho da Extremadura, nem as abóbadas nervadas do foco toledano, mas apenas alguns elementos que dão a sugestão de um ambiente mudéjar. Na realidade há Apenas alguns elementos de gosto muçulmanizante, quase todos ornamentais e raramente estruturais. Isto talvez se justifique por não haver no círculo da corte artistas mudéjares e terem sido cristãos a tentar imitar o que viram em Espanha ou o que os encomendantes lhes explicavam.

Por outro lado, há que ter em conta o gosto que D. Manuel tinha por tudo o que era exótico, nomeadamente árabe e islâmico, fosse do próximo Magreb ou do Oriente longínquo. O principal biógrafo de D. Manuel I, o humanista Damião de Góis, testemunha-nos que com o rei português havia sempre músicos mouriscos que cantavam e tangiam alaúdes e pandeiros, ao som dos quais os moços fidalgos dançavam; também para as corridas de touros o próprio rei mandava distribuir vestidos e jaezes árabes.

A justificação deste surto foi explicada de três formas distintas (42)Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura …, p. 203 e segs.. Uma corrente defendeu que mais não foi que o ressurgimento de formas tradicionais que, desde o tempo da dominação árabe, tinham ficado como que em hibernação, despertando no fim do século XV. Outra admitia a influência directa da arte do Magreb, por via dos contactos que os portugueses aí tinham, desde a conquista de Ceuta, em 1415. Finalmente, uma terceira sustentou a importação directa dos outros territórios peninsulares de além-fronteira.

A teoria que defendeu a origem marroquina, tão querida da historiografia dos anos vinte e trinta, foi claramente descartada por Virgílio Correia (43)Vergílio Correia, Lugares d’Além, Lisboa, 1923.. As outras duas são, quanto a nós, simultânea e parcialmente válidas, tendo sobretudo em conta a comprovação da existência de mais obras mudéjares quatrocentistas e quinhentistas do que aquelas que, décadas atrás, se conheciam.

9. O MUDÉJAR DO NÚCLEO SINTRENSE, NOS SÉCULOS XV E XVI

No reinado de D. Manuel I, há cinco situações distintas: o mudéjar de Coimbra, o mudéjar de Sintra, o mudejar alentejano do eixo Évora-Beja, o mudéjar raiano e do interior beirão, e o mudéjar madeirense.

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O de Coimbra já foi analisado, pois apesar do desenvolvimento que conheceu nesta época já vinha de trás, sem quebras significativas na sua continuidade.

Como já noutro lugar deixámos expresso, chegado a Lisboa e já com novos projectos políticos em face do parcial desaire da sua missão, o rei português resolveu dar outro brilho aos palácios que tinha herdado do seu austero primo D. João II, pouco interessado no luxo e na ostentação. Em breve, começou obras importantes no paço da

Fachada principal do palácio da vila de Sintra

alcáçova, onde ainda subsistem elementos desse engrandecimento. Tudo leva a crer que foi aí que o monarca se acolheu, logo após o casamento com D. Maria, cujos esponsais se realizaram em Alcácer do Sal. Na mesma altura, deu início a renovação do paço da vila de Sintra, cujos caboucos remontavam ao período de dominação árabe, posto que D. João I e D. Afonso V aí tenham operado numerosas benfeitorias (44)Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Lisboa, 1903; Raul Lino, Os Paços Reais da Vila de Sintra, Lisboa, 1948; José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses. Caracterização e evolução da habitação nobre, Lisboa, 1993.. Os desenhos feitos por Duarte Darmas para o Livro das Fortalezas mostra-nos esta construção por volta de 1507, antes dessa grande reforma manuelina. Daqui resultaria a mais importante construção mudéjar portuguesa.

No meio de uma serra húmida e verdejante, mestres de pedraria, imaginadores e lavrantes, carpinteiros e azulejadores fizeram um palácio com pátios interiores, tanques de águas correntes e fontes, telheiros e varandas à maneira da calorosa Castela ou da Extremadura espanhola, mas nada adequado aos rigores de um clima atlântico. Não se pode esquecer a existência do paço árabe, mas as reformas posteriores obliteraram o carácter inicial (45)Jose Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 298 e segs. , pelo que, como já Reinaldo dos Santos afirmou, em 1924, tudo o que tem características mudéjares é manuelino (46)Reinaldo dos Santos, «Sintra», Guia de Portugal, Lisboa, 1924, vol. I, p. 484.. Para criar um ar ainda mais mourisco, não só se fizeram as portas e janelas enquadradas em alfices, como se usaram arcos debruados interiormente com arquilhos ultrapassados e as paredes foram revestidas de azulejos hispano-árabes comprados em Sevilha. Não pomos de lado a hipótese, no entanto, de também se terem feito azulejos de aresta na própria vila, talvez até por artistas chamados expressamente da Andaluzia.

A chamada sala dos árabes e, sem dúvida, a mais notável, com uma composição geométrica apenas a verde e branco, de excepcional efeito volumétrico, com as suas cinco portas de desenho ogival simples debruadas com alfices azulejares de motivos igualmente geométricos e estilizações, ao que se junta um remate corrido ou platibanda em relevo só com motivos vegetalistas, como estranhas mas elegantes maçarocas. No centro, há uma pequena fonte já de cariz renascentista com tritões e cavalos. A mais

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Portas da sala das pegas e da sala dos cisnes do palácio da vila de Sintra (Desenho de E. Casanova. 1903)

Janelas do pátio do leão e da sala das sereias do palácio da vila de Sintra (Desenhos de E. Casanova. 1903)

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documental das composições de azulejos e a da sala das pegas, que foi sala de audiência, do tipo de corda seca, com motivos geométricos contínuos, recortados superiormente de forma já renascentista, com um remate que inclui pequenas urnas. Na sala dos cisnes, a antiga sala grande ou dos infantes, ressalta o esmaltado da composição geométrica, em que apenas alternam placas verdes, azuis e brancas, havendo no coroamento peculiares figurações de edifícios imaginários feitos com a técnica do esgrafito sobre os próprios azulejos verdes. Fabricados por certo, em Sevilha, por encomenda, foram os azulejos relevados do chamado quarto de D. Sebastião, já com claras influências das terracotas italianas e com um forte pendor naturalista.

Dos pátios, espaços de clara matriz mudéjar, o que mais se impõe é o central, pela sua sala dos banhos a que se acede por um triplo arco rebaixado enquadrado por um alfiz e pela variedade e riqueza dos lambris de azulejos de corda seca. No pátio da carranca mostram-se os mais importantes azulejos deste núcleo, os que ostentam a esfera armilar, a empresa de D. Manuel I.

No Livro Truncado do almoxarife André Gonçalves, anotam-se várias encomendas, no ano de 1508. Uma foi entregue pelo vedor das obras do Convento de Nossa Senhora da Pena, edifício onde ainda são visíveis muitos azulejos sevilhanos, posto que grande parte colocada ou recolocada, no século XIX. Mas, a documentação coeva permite ir mais longe e conhecer outras remessas, como a do castelhano João Rodrigues que transportou mais de uma centena de ceiras, desde o ancoradouro de Belém, até à vila de Sintra.

No palácio, pequenos capitéis, que José Custódio Vieira da Silva diz terem sido adquiridos em Génova, idênticos ao da Casa de Pilatos e de tantas outras moradias nobres andaluzas, foram colocados nos pilares médios dos vãos de janelas e varandas.

A capela, cujo espaço deve ter ficado definido no tempo de D. Afonso V, possui uma passadeira cerâmica alicatada, idêntica a do chamado quarto de D. Afonso VI, certamente feita por artistas

Pavimento azulejar da nave da capela do paço da vila de Sintra, em 1903 (Desenhos de E. Casanova)

sevilhanos ou então importada da capital da Andaluzia. Este tom mudéjar e complementado pelo tecto de rosas e estrelas, restaurado nos séculos seguintes. Como acima dissemos, o tecto ou foi feito de novo, por João Cordeiro, ou então, profundamente renovado e modernizado por ele. Trabalharam também nesta empreitada de 1508 o bate-folha Afonso Álvares e o pintor Gonçalo Gomes (47)Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, p. 195 e segs..

Um dos elementos mudéjares mais interessante é o ameiamento que coroa os corpos manuelinos e anteriores e que se via também no antigo muro de acesso ao recinto do grande pátio, como o testemunha o desenho de Enrique Casanova. Alguns autores tem sugerido que estas ameias denteadas são posteriores, o caso de Perez-Embid,

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Desenho do pavimento azulejar do chamado quarto de D. Afonso VI do paço da vila de Sintra (Detalhe. Desenho de J.M. Santos Simões)

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Tecto da nave da capela do paço da vila de Sintra

enquanto outros, como Reinaldo dos Santos e Raul Lino fogem à questão. Pela análise que fizemos, há ameias novas, da reforma do século XVIII e até posteriores, mas, sobretudo na parte de trás do palácio, há muitas que estão claramente ligadas às estruturas manuelinas e são dessa época. Acresce que toda a iconografia que conhecemos anterior ao surto revivalista sintrense – que começou com as obras de D. Fernando de Saxe-Coburgo, na Pena – incluindo a vista aguarelada de W. Gail e os dois desenhos de Esquioppetta que serviram para as gravuras estampadas em 1829, mostram já essas ameias, pelo que não são um devaneio romântico. Muitas foram refeitas, quando das obras dirigidas por Carlos Mardel, após o Terramoto de 1755, empreitada vultosa que Ana Arez Brito Correia bem lembrou na sua bela e recente monografia (48)Ana Maria de Arez Romão e Brito Correia, Palácio Nacional de Sintra, Lisboa, 1994, p. 12..

Este tipo de ameias denteadas foi muito comum no século XVI em todo o centro e sul da Península e aparecem também na Ribafria e na antiga Mesquita de Mértola que, no entanto, em 1507, ainda as não possuía, como se prova, de igual modo que relativamente a Sintra, quando Duarte Darmas a desenhou. Apareceram, com algumas variantes, na Mesquita de Córdova e no palácio omeida de Medina al-Zahara e mantiveram-se nas construções espanholas até ao século XVI, particularmente nas zonas de influência de Córdova, Granada e Sevilha.

Ligados à arte do palácio da vila de Sintra temos de considerar dois tectos de laçaria mudéjar da região saloia, ambos datáveis da época manuelina ou dos anos imediatamente posteriores. Um deles e o do vestíbulo do Convento do Varatojo, situado na periferia de Torres Vedras, normalmente atribuído ao tempo de D. Afonso V (49)Bartolomeu Ribeiro, Convento de Santo António do Varatojo, Braga, 1956.. E extraordinariamente simples, plano e com entrelaçado geométrico de ripas finas. Na realidade, no tempo do reinado de o Africano, houve importantes obras nesta casa religiosa, das quais se conserva o portal e dois relevos laterais, um deles com as armas régias. O vestíbulo, no entanto, pode datar da época manuelina e pertencer à grande empreitada de que resultou também o claustro.

Outro e o da igreja Matriz de Dois Portos, que apenas conserva de mudéjar a esteira da nave central, em madeira de cedro, com desenho simples de alvéolos, recentemente restaurada, pois tinham-lhe aberto uma estranha clarabóia (50)Ana Rosa de Freitas, «Igreja de S. Pedro em Dois Portos, Torres Vedras», Monumentos, n.o 1, Lisboa, 1994, p. 63 e segs.. A igreja é de estilo renascença, da primeira fase e, por analogia, pode datar-se dos finais dos anos trinta ou já da década seguinte do século XVI. Tem seis tramos e três naves separadas por colunas monocilíndricas com belos capitéis com desenho idêntico ao dos que João de Castilho divulgou, por essa época, nas obras dos claustros do Convento de Cristo de Tomar e na vizinha igreja de Areias. O tecto não pode ser muito posterior.

No Convento da Madre de Deus, de Xabregas, em Lisboa, uma fundação da rainha D. Leonor, nos primeiros anos do século XVI, numa das salas

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Pormenor do tecto do vestíbulo da igreja do Convento do Varatojo

que abrem para o claustro grande, há um tecto que tem sido classificado como mudéjar (51)Conde de Sabugosa, A Rainha Dona Leonor, 1458-1525, Lisboa, 1921; Reinaldo dos Santos, «D. Leonor e a arte», Colóquio, n.° 1, Lisboa, 1959.. De facto, tem um desenho estrelado que evoca essas obras, mas está de tal maneira adulterado que não arriscamos uma opinião, ficando-nos a dúvida se se trata de um trabalho efectivamente desse tipo, mas muito mexido, se de uma obra revivalista de má qualidade. Liberato Telles que escreveu, em 1899, sobre o Mosteiro da Madre de Deus, chama-lhe capela árabe e diz que estava em restauração (52)Liberato Telles, Mosteiro e Egreja da Madre de Deus, Lisboa, 1899, pp. 24-25..

Em Santa Iria da Azóia, na quinta de Val de Flores, a pouco mais de uma dezena de quilómetros da capital, bem nas margem do Tejo, fica o palácio dos Barros e Vasconcelos que possui tectos mudéjares em diversas dependências, a maioria, infelizmente, em estado de ruína total. A bela moradia foi edificada por Jorge de Barros, fidalgo da casa del-rei D. João III, que foi feitor na Flandres, até 1537, e que era considerado um dos homens mais ricos de Portugal, com cabedais que ultrapassavam os trezentos mil cruzados. Deve ter sido imediatamente após o seu regresso de

Pormenor do tecto da nave central da igreja Matriz de Dois Portos

Antuérpia que instituiu o morgadio e construiu o seu palácio ribeirinho. Algum tempo depois, em 1558, edificou um panteão familiar, na igreja Matriz (53)Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Lisboa, 1973, vol. I, pp. 392-393; e vol. II, pp. 64-65. Devemos a informação da existência destes tectos ao nosso amigo e colega Arquitecto Jorge Brito e Abreu, pelo que expressamos aqui os nossos públicos agradecimentos..

Mudéjares, fruto de encomendas certamente inspiradas na profusão ajulejar do palácio de Sintra, são os frontais sevilhanos que ainda se conservam em várias igrejas da vila e dos arredores: na igreja Matriz de Santa Maria, de Sintra, na igreja de S. João Degolado, de Terrugem, na Matriz de Montelavar, na igreja Matriz de S. Pedro da Cadeira, na Matriz de Nossa Senhora da Cátela, na capela do Espírito Santo, do Tojal, na igreja Matriz de Cheleiros, na igreja de S. João Baptista, de Lampas, na Matriz de S. Quintino, na capela de Nossa Senhora do Monte – edificada por D. João de Castro, em 1542 – na igreja de Nossa Senhora da Assunção, de Enxara do Bispo, na capela de Nossa Senhora do Ameal, junto de Torres Vedras, na igreja de Nossa Senhora da Oliveira, de Sobral da Abelheira, na igreja de Santa Maria Madalena, de Aldeia Gavinha, na igreja de Nossa Senhora da Salvação, de Arruda

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dos Vinhos, e na igreja Matriz de Santiago dos Velhos. Outros foram aplicados diversamente, nas paredes, em rodapés, etc.; é o caso dos que se encontram na quinta do Casas Novas de Colares; na antiga capela de Nossa Senhora de Melides, depois recolhidos no Museu do Azulejo; na Casa de Ribafria, que foi do alcaide-mor de Sintra, Gaspar Gonçalves; no antigo Convento da Quinta da Penha Longa; na igreja de Santo Estêvão das Galés. Imagine-se por esta listagem os revestimentos deste tipo e desta época que devem ter desaparecido, ao longo dos séculos.

Um pouco mais a norte, mas ainda não fora desta zona de influência, encontramos vestígios da utilização de revestimentos ou frontais de azulejos sevilhanos na igreja de Santa Maria, de Óbidos, na igreja de Nossa Senhora do Pópulo, das Caldas da Rainha, e na igreja de Santa Catarina, no aro desta cidade.

Cripta da igreja do Convento de Jesus de Setúbal

Não podemos esquecer outros dois edifícios onde foram aplicadas grandes quantidades destes azulejos, o Convento de Jesus, de Setúbal e a Quinta da Bacalhoa, em Azeitão.

Tem para nós especial interesse a cripta da citada casa religiosa, fundada por Justa Rodrigues, ama de leite de D. Manuel I, que o acompanhou durante a sua primeira estância em Castela. Os filhos desta ilustre senhora, D. João Manuel, que foi camareiro-mor, e D. Nuno Manuel, que foi almotacê-mor de D. Manuel I, foram com ele a Espanha, em 1498, e foi D. João Manuel quem, em 1505, conseguiu do Papa Julio II a autorização para sepultar os descendentes da fundadora na cripta, sob o altar-mor sobre-elevado, o que nos dá uma data aproximada da sua construção (54)Pedro Dias, A igreja de Jesus de Setúbal na evolução da arquitectura manuelina, Lisboa, 1987; José Custódio Vieira da Silva, A igreja de Jesus de Setúbal, Setúbal, 1988; Carlos Tavares da Silva & Fernando António Baptista Pereira, Convento de Jesus. 500 anos. Arqueologia e Historia, Setubal, 1989.. Os azulejos tem padrões geométricos e são rematados por uma inscrição gótica esgrafitada. São de salientar os que ostentam os Y e os F alusivos aos reis Católicos, Isabel e Fernando.

Os azulejos da fonte octogonal do centro do lavabo do claustro, são também datáveis do final do século XV, mas de diferente centro de fabrico, seguramente, de Valência ou de outro centro levantino. Estas rajolas e alfardons valencianos devem ter sido muito comuns, pois encontraram-se nas ruínas do paço da Alcáçova de Lisboa, durante as obras de restauro que decorreram em 1939 e 1940, no paço dos infantes de Beja e no anexo Convento da Conceição, e também no pavimento do torreão sul da casa da Quinta da Bacalhoa que, como se sabe, esteve inicialmente ligada aos infantes de Beja e foi, depois de D. Diogo (55)S J. M. dos Santos Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, p. 51 e segs..

Ainda nesta região devemos citar os exemplares que se conservam em Alcochete, na igreja de S. João, apenas o resto de uma profusa decoração azulejar.

A Quinta da Bacalhoa, tal como hoje se pode admirar, foi construída, mais tarde, por Brás Afonso de Albuquerque, entre 1528 e 1554 (56)Joaquim Rasteiro, Palácio e Quinta da Bacalhoa, Lisboa, 1895.. Os azulejos sevilhanos que tem são já do segundo quartel do século e certamente dos mais tardios de quantos se fizeram em Sevilha, segundo a técnica de aresta.

10. O MUDÉJAR DO NÚCLEO ALENTEJANO, NOS SÉCULOS XV E XVI

Não sabemos se os paços manuelinos de Lisboa, de Almeirim ou de Muge, totalmente desaparecidos, também tinham um cunho mudéjar, mas não e uma possibilidade a rejeitar liminarmente, já que esta é a dominante naquilo que resta do de Évora. O essencial das obras no grande complexo palatino decorreu entre 1507 e 1520 (57)Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, Lisboa, 1966, vol. I, p. 183 e segs..

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Alçada poente da galeria das damas do palácio de D. Manuel de Évora (Desenho da DGMN)

A galeria das damas do palácio real de Évora é um corpo rectangular de dois pisos, longo de quase sessenta metros, com o superior dividido em três corpos por duas arcades triplas com arcos ultrapassados, num esquema que lembra claramente idêntica situação do Allambra de Granada. É curioso notar que na época manuelina trabalharam aí dois mestres castelhanos, Alonso de Pallos e Pero de Trillo. Outros mestres foram Diogo de Arruda e Martim Lourenço. Interessam-nos os vãos do lado sul, posto que muito restaurados. Aí, há dez janelas de duplo vão em ferradura envolvidos num arco conopial, de molduração grossa, e capitéis naturalistas. Ao lado, como que a enunciar um alfiz, há dois pináculos que partem de mísulas e terminam em cogulhos góticos. Este modelo repetiu-se nas obras mudéjares alentejanas e, salvo raras excepções, compartilhou a totalidade com um único outro, mais pobre, em que as aduelas são de ladrilho e apenas os pilares médios ou laterais de mármore da região (58)No topo dessa ala, avança uma varanda que, no corpo baixo tem um alpendre com cinco arcos também ultrapassados, mas com as voltas em material cerâmico, num estranhíssimo denticulado de ladrilho, que nos leva a desconfiar se não se tratara de uma criação oitocentista..

No Museu de Évora, guarda-se uma janela de raiz mudéjar que pertenceu ao chamado balcão da rainha do paço de S. Francisco, com o vão geminado e vestígios de aplicação de azulejos sevilhanos.

Na mesma colecção pública pode ainda ver-se outra porta de vão duplo, as esta com arcos em ferradura com denticulados, proveniente da Casa da Câmara que se situava na Praça, datável de entre 1513 e 1516, cujas obras foram da responsabilidade dos mestres Álvaro Anes e Duarte de Medina, este último castelhano (59)Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, p. 119..

Na cidade de Évora, devemos lembrar o palácio Vimioso, construído em frente da Catedral e do seu claustro, onde o bispo D. Afonso fez a sua principal morada. O seu filho e herdeiro, D. Francisco de Portugal, foi na comitiva de D. Manuel, em 1498 (60)Hoje, são visíveis, no Jardim Publico, onde foram colocadas, em 1866, pelo cenógrafo Luigi Cinatti, cinco janelas mudéjares geminadas, com arcos graníticos denticulados.. Deste edifício há cinco janelas mudéjares geminadas com arcos graníticos denticulados, hoje no Jardim Público, para onde foram transportadas no final do século passado.

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Ajimeces do antigo palácio dos Vimioso, hoje no jardim público da cidade

Porta dos desaparecidos paços do Concelho de Évora (Museu de Évora)

Portas da sala capitular do Convento dos Lóios de Évora

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Há em Évora outros palácios com janelas mudejares, posto que muito mais simples: o dos condes de Tentúgal, depois duques do Cadaval; o dos condes de Basto; o de Vasco da Gama; todos

Palácio dos Condes de Basto de Évora

Janela da chamada casa de Vasco da Gama de Évora

estes em redor da Catedral; e, ligeiramente mais afastado, em frente do Convento do Calvário, o dos Sepúlveda, fundado pelo castelhano Diogo de Sepúlveda (61)Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, 1992, vol. I, p. 276. , um dos defensores da causa da Excelente Senhora e de D. Afonso V, que se homiziou entre nos e casou com uma filha de Rui da Silva, o grande valido de D. João II e de D. Manuel I, profundo conhecedor de Castela, a quem os Reis Católicos dispensaram particular atenção e deram provas publicas de apreço, em 1498. Todos estes paços são datáveis do início de Quinhentos.

Junto ao seu paço, conhecido devido ao titulo ducal por dos Cadaval, D. Rodrigo de Melo edificou um convento de frades lóios, em cujo claustro se abre uma extraordinária porta mudéjar, com duplo arco em ferradura sobre duplo mainel de toros retorcidos, envoltos por um arco em carena que nasce de dois gigantes laterais; os capiteis fogem a todas as normas, numa criatividade que apenas procura o exótico. O medalhão

Pórtico da igreja do Convento de S. Francisco de Évora

no fecho do portal, com a tranqueira alusiva a acção de D. Rodrigo de Melo, em Azamor, em 1508, dá-nos uma base para uma datação aproximada.

Arcos em ferradura são também visíveis no pórtico da igreja do Convento de S. Francisco, igreja gigantesca, a um tempo conventual e palatina.

Mirante da Casa Cordovil de Évora

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Nos arredores de Évora esta moda dos arcos em ferradura estendeu-se ao Mosteiro de S. Bento de Castris, de que era mestre, em 1520, Estevão Lourenço (62)Pedro Dias, A arquitectura manuelina, Porto, 1988, p. 193..

Claustros do Convento de S. Bento de Castris nos arredores de Évora

Não nos referiremos a mais do que ao mirante da casa Cordovil, em pleno coração de Évora, mas não podemos deixar de lembrar que existem outras janelas isoladas com arcos ultrapassados e gelosias com que nos deparamos, no interior do casco antigo da cidade.

Uma outra obra que teve uma forte componente mudéjar, mas de que apenas temos vestígios, foi o paço dos infantes, em Beja.

Deve ter sido começado após o casamento do infante D. Fernando – filho do rei D. Duarte com sua prima D. Brites, filha do infante D. João,

Gelosias dos desaparecidos paços dos Infantes de Beja (Museu Regional)

em 1447. Já estava parcialmente pronto em 1453, quando aí esteve o jovem D. Afonso V, mas as obras, como acontecia em todos os grandes palácios, não mais acabaram (63)Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Beja, vol. I, Lisboa, 1992, vol. I, p. 183 e segs; José Custódio Vieira da Silva, O tardo-gótico em Portugal, p. 51 e segs.. Devemos ter em conta que D. Fernando era o mais importante e poderoso senhor do seu tempo e que foi o seu filho D. Manuel quem ascendeu ao trono, em 1495. D. Brites só veio a falecer em 1506.

O paço foi ligado ao Convento de Nossa Senhora da Conceição, quando a nobre senhora enviuvou, acabando por ai ser definitivamente integrado, em 1703. Sabemos que, em 1485, houve uma intervenção do mestre das obras reais João de Arruda, que desde cinco anos antes, estava a frente do estaleiro do Mosteiro da Batalha. As reformas sucessivas dificultam a analise dos elementos mudéjares remanescentes, mas temos de acreditar na clara marca desta arte, a partir das janelas existentes de duplo vão e arcos em ferradura, nomeadamente a que está no topo da igreja, moldurada por um alfiz, e dos restos do passadiço e gelosias do mirante com cinco arcos lobulados em ladrilho com preenchimento com motivos geométricos. Através de documentação antiga, sabe-se que o pavilhão principal tinha um telhado de quatro águas, balcões geminados com ajimeces e um terraço com grelhas de ladrilho. Quanto a datação destes elementos, posto que com muitas reservas, inclinamo-nos já para a época manuelina.

Não se podem esquecer os azulejos da sala capitular, sobre os quais José Meco escreveu: «…o banco adossado e o respectivo degrau revestidos

Revestimento azulejar da sala do capitulo do Convento da Conceição de Beja

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de azulejaria sevilhana de aresta do primeiro quartel do século XVI, cuja aplicação, muito cuidada, foi feita a maneira da utilização andaluza desse material, especialmente nos padrões agrupados em painéis que servem de espaldar aos bancos. (64)José Meco, O azulejo em Portugal, p.189.. Algumas rajolas e losetas conservadas no Museu de Beja e provenientes do palácio, como já antes referimos, atestam que, desde a sua fundação se começou a usar esse material importado, nos pavimentos das principais divisões.

Em Beja, outra obra de cariz mudéjar, dado pelas janelas com vãos de arcos ultrapassados, é o paço da alcáçova, se é que se pode designar assim, a construção habitacional que fica junto da torre de menagem quatrocentista. Não conhecemos documentação que o comprove, mas a analise estética não deixa duvidas de que se trata de uma obra do início do século XVI, da época manuelina.

Paço da alcáçova do Castelo de Beja

No Alentejo, merecem ainda referencia as três moradas nobres: a Sempre Noiva, o castelo de Alvito e as casas de Água de Peixes.

A Sempre Noiva é uma morada de campo, de pequenas dimensões, a que talvez devessemos

Paço da Sempre Noiva, em 1886 (Desenhos de Albrecht Haupt)

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Torre do Castelo de Alvito

chamar vila, á maneira italiana. Construiu-a D. Afonso de Portugal, bispo de Évora e tronco dos Vimioso, a quem se ficou a dever o palácio que ficava em frente a Sé (65)Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, p. 367 e segs.. O seu filho D. Francisco foi um dos nobres que esteve com D. Manuel em Espanha. Tem dois pisos, larga e aparatosa escadaria exterior, apresenta janelas de traçado idêntico aos do paço real, o que pode denunciar um mesmo mestre (66)José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 396 e segs. O estado actual deste notabilíssimo paço é de ruína, podendo aperceber-se melhor o seu encanto através dos desenhos feitos por Albrecht Haupt, que este arquitecto e historiador fez, na década de oitenta do século passado, e publicou no seu livro sobre a arquitectura da renascença em Portugal. , talvez Martim Lourenço.

O castelo de Alvito é um dos mais bem conservados paços deste período, e teve origem numa autorização passada a D. João da Silveira por D. Afonso V, em 1482, depois confirmada, pelos seus sucessores, em 1489 e 1497. A obra deve ter terminado em 1502 (67)José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 409..

Tem planta quadrangular, com três fortes torres nos vértices e uma torre de menagem a meio da parede norte. Os vãos de janelas e varandas são, maioritariamente de arcos em ferradura e, nalguns

Patio central do Castelo de Alvito

casos duplos, com aduelas de ladrilho, enquanto os capiteis são idênticos aos que vimos em Sintra e Évora. Como José Custódio Vieira da Silva relembrou, .«… inserindo-se no conjunto de edifícios da zona de Évora… utiliza idêntica tipologia de vãos e materiais, o castelo de alvito confirma, até pela dimensão que o seu paço ostenta, a autentica moda que o mudejarismo gozou nos fins do século XV e inícios do XVI,».

Água de Peixes pertenceu aos senhores da casa dos Melo, os mesmos que construíram o palácio Cadaval e o Convento dos Lóios; Rui de Melo e Diogo de Melo foram também na comitiva de 1498. Nesta vila suburbana avultam as mesmas modas eborenses, as janelas de arco em ferradura, simples ou duplas com mainel e capitel de mármore, e gelosias, próximas das do antigo paço dos Estaus.

Não ficaria completo este enunciado sem a referencia ás obras que o duque de Bragança D. Jaime

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Ajimes de canto do Solar de Agua de Peixes

fez no seu palácio de Vila Viçosa, com trocos de claro recorte mudéjar, como as arcadas do claustro ou pátio e a entrada da armaria que se podem datar dos anos imediatos ao de 1513. Tambem aqui há azulejos hispano-árabes e o duque mandou até fazer um brasão neste material, que se guarda no Museu Nacional do Azulejo.

Para além de Sintra e destas localidades do eixo Évora-Beja, houve uma larga série de outras, ao longo da fronteira, que tiveram obras mudéjares, durante o período manuelino. Curiosamente, apenas uma se situa no Alentejo, Mértola, onde a antiga mesquita almoade recebeu um coroamento de ameias, quando da reforma manuelina, certamente dirigida pelo mestre Fernão Pires (68)Pedro Dias. A arquitectura manuelina, p.203..

Os azulejos sevilhanos eram tambem abundantes nesta região dominada por Évora e Beja, embora menos que no aro de Sintra e Lisboa, mas muitos perderam-se ou foram deslocados, como os do Convento do Paraíso da capital alentejana.

lgreja Matriz de Mértola

Igreja Matriz de Mértola vista por Duarte Darmas, cerca de 1507, antes da grande reforma manuelina (Pormenor do Livro das Fortalezas)

Os conjuntos mais importantes são, para além dos já citados, o da capela funerária de Garcia de Resende, no Convento do Espinheiro, o do Convento de S. Francisco, fragmentado, o de uma capela da cerca de Valverde, a Quinta da Mitra, e da igreja de Nossa Senhora da Assunção, de Tourega.

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Janela do Convento da Conceição de Beja, em 1888 (Desenho de Albrecht Haupt)

11. O MUDEJAR DO NUCLEO RAIANO E BEIRÃO, NOS SECULOS XVI E XVII

Todas as outras obras mudéjares são tectos, ou restos deles, quase sempre em igrejas que se situam junto a fronteira, em locais onde os contactos com as regiões vizinhas da Galiza, de Leão e de Castela eram mais fáceis do que com as cidades e vilas portuguesas do litoral.

Começando de norte para sul, temos a igreja Matriz de Caminha. Os trabalhos de edificação começaram em 1488, prolongando-se por varias décadas, mas devendo-se sempre a mestres galegos ou biscainhos, como Tomé de Tolosa, Francisco Fial e Pero Galego.

A cobertura da nave central, em madeira de bordo, isto e, acer campestris, com esteira central e duas águas deve-se a Francisco Muñoz, vizinho de Tuy, conforme consta da inscrição que deixou na pinha central e onde após a data de 20 de Abril de 1565, além dos nomes dos prelados, párocos e entalhadores. Foi tambem este Francisco Muñoz quem fez o retábulo do altar-mor, entretanto desaparecido (69)Luis Figueiredo da Guerra, Viana e Caminha, Porto, 1929, p. 16; e Flávio Gonçalves, «Arte importada e artistas estrangeiros nos portos de Entre Douro e Minho», Boletim da Biblioteca Publica de Matosinhos, n.° 22, Matosinhos, 1978, p. 5..

A capela-mor e a capelas dos flancos são cobertas com abóbadas de nervuras tardo-góticas. Este tecto perdeu toda a policromia em restauros sucessivos e um outro, o da parte de baixo do coro-alto, foi retirado e levado para o edifício da Camara Municipal. Os elementos renascentistas são patentes em toda a decoração, o que permite confirmar o adiantado da data que tem causado alguma perplexidade.

Na Beira Alta, há várias igrejas junto à raia com as capelas-mores de carpintaria mudéjar, obras

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Tecto da nave central da igreja Matriz de Caminha

Tecto da capela-mor da igreja Matriz de Escarigo

Tecto da capela-mor da igreja Matriz de Leomil

modestas, mas características e razoavelmente conservadas, concretamente, as igrejas matrizes de Vilar Formoso, Escarigo, Leomil e Castelo Mendo.

Nas da antiga vila de Touro e da vizinha povoação de Marmeleiro, ficaram apenas os típicos tirantes da nave, mas é muito provável que o resto do madeiramento fosse também mudéjar. Estas duas igrejas pertenciam a Ordem de Cristo e constam das visitações de 1507 a 1510 que publicamos; as coberturas de madeira são referidas, mas não se deduz que sejam mudéjares, mouriscas, no dizer dos visitadores (70)Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo …, p. 155 e segs..

Tecto da capela de Santa Maria de Castelo Mendo

Tirantes do tecto da igreja Matriz de Marmeleiro

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Um pouco mais para o interior, temos o tecto da capela-mor de Sortelha, na divisória entre a Beira Alta e a Beira Baixa, muito simples e recentemente repintado de forma incorrecta; os tirantes da nave da igreja de Santo André, de Ferreira de Aves, já na zona de Viseu; e os tirantes da igreja Matriz de Seixo da Beira, já no limite ocidental da Beira-Serra.

A igreja de Ferreira de Aves está bem documentada (71)A. Lucena e Vale, «A porta românica de Ferreira de Aves», Beira Alta, vol. X, fasc. 1-2, Viseu, 1951; António Nogueira Gonçalves, «A igreja de Ferreira de Aves e os seus elementos românicos», Ocidente, vol. LXX, Lisboa, 1966.. As obras de ampliação da construção medieval começaram por 1573, estando no fim a capela-mor em 1576. Quatro anos depois, e porque o povo já não cabia, resolveram os fregueses ampliar o espaço, construindo três amplas naves divididas por pilares monocilíndricos num toscano simplificado, naves cobertas por um telhado de madeira de três águas, com esteira central e tirantes tambem de madeira. Sé estes se conservam dessa grande empreitada com caracter mudéjar. Temos a certeza de que, em 1591, o corpo estava inacabado e que, oito anos depois, apenas faltava o telhamento. Assim, fica claro que a cobertura tem de datar da ultima década do século XVI.

Contemporânea é a de Seixo da Beira, os arredores de Oliveira do Hospital. O orago da igreja é São Pedro ad Vincula e era do padroado da mitra de Coimbra (72)António Nogueira Gonçalves, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952, pp. 182-183.. A capela-mor é de cruzaria tardo-gotica, e o corpo com três naves separadas por pilares monocilindricos toscanos simplificados. A cobertura foi profundamente remodelada, ficando apenas os tirantes mudéjares que datam do fim dos trabalhos de ampliação que, pela análise estilística, se podem colocar nas ultimas duas décadas de Quinhentos.

Sabemos ainda por informação de um pároco local que, nestes últimos anos, foram destruidos dois outros tectos de laçaria, um perto de Penha Garcia e outro em Castelo Bom.

A moda dos tectos de laçaria mudéjar teve larga vigência em Portugal, pois há, pelo menos dois, construídos já no século XVII: um é o da capela-mor da igreja do Mosteiro de S. Bento, de Bragança, começado nos finais do século XVI, a instâncias do bispo de Miranda, D. Jerónimo de Meneses, e que estava acabada, no essencial, em

Tecto da capela-mor da igreja de S. Bento de Bragança

1609 (73)José de Castro, Bragança e Miranda, Porto, 1974, vol. I, pp. 241-242.. O retábulo barroco feito no século XVIII cobre parte do tecto, mas permite que se perceba bem a sua estrutura e decoração.

Outro destes tectos mudéjares tardios é o da capela de Santo Antonio , de Arguedeira, uma povoação situada próximo de Tarouca, que foi instituída em 1639, por um nobre local (74)Maria Antónia Amaral, «O tecto mudéjar da capela de Santo António de Arguedeira (Tarouca)», Mundo da Arte, Lisboa, 1988, n.° 2, II série, p. 39 e segs. Agradecemos a Dra. Maria Antónia Amaral as preciosas informações sobre os tectos mudéjares de Castelo Mendo que não conhecíamos..

Todo o norte, do interior ao litoral, conheceu a moda dos azulejos sevilhanos que davam um cunho mudejar a palácios, casas, igrejas. Podem encontrar-se, não só nos museus locais, onde foram recolhidos, mas ainda in situ, como em Ponte de Lima, Cete, S. Simão da Junqueira, Aguiar da Beira, Seia, Quintela de Azurara, Viseu e Fonte Arcada.

Tecto da capela de Santo Antonio de Arguedeira

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Tecto da nave central da Se do Funchal

Tecto de um dos braços do transepto da Se do Funchal

12. O MUDEJAR MADEIRENSE

Na ilha da Madeira conserva-se um notável conjunto de tectos mudéjares, alguns razoavelmente documentados e estudados (75)Luiza V. Clode, «Tectos de alfarge na ilha da Madeira», Espaço-Arte, n.° 1-2, Funchal, 1979, p. 47 e segs.; Rui Carita, «Os tectos de alfarge da Madeira. Século XVI. As relações da Madeira com a arte islâmica», Actas do II Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1989, p. 171 e segs..

Do ponto de vista estético, os tectos da Sé – os mais importantes – não se podem desligar dos da alfândega, posto que os catedralinos tenham uma decoração pintada já renascentista que pode induzir em erro, quanto a data da obra de carpintaria propriamente dita. A construção começou em 1493, mas só em 1501 é que o plano que foi finalizado deve ter sido posto em prática, com a consignação de rendimentos suficientes. Em 1508, a igreja foi benzida pelo bispo titular de Taiere, D. João Lobo e, em 1514, trabalhava-se já no coruchéu exterior. Dos construtores conhecemos o nome do mestre, que era o responsável pelas obras regias na ilha, o continental Pero Anes, e tambem o do que dirigia o estaleiro da catedral, Gil Eanes (76)Manuel Juvenal Pita Ferreira, A Sé do Funchal, Funchal, 1963; Rui Carita, História da Madeira (1420-1566). Povoamento e produção açucareira, Funchal, 1989, p. 404 e segs..

Os tectos da catedral são de uma extraordinária riqueza e de excelente execução, só podendo atribuir-se a homens que conheciam bem e praticavam habitualmente a carpintaria mudéjar. Julgamos que um projecto e desenhos, mesmo pormenorizados, não eram suficientes para justificar o que ainda hoje se pode admirar, pelo que o mestre responsável – tenha sido Pero Anes ou não – tinha que conhecer muito bem esta arte. Carmen Fraga ligou as obras madeirenses as canaris (77)Carmen Fraga Gonzalez, «Carpinteria mudéjar en los archipiélagos atlánticos. Canarias, Madeira y Azores… Mudéjar Iberoamericano …, p. 157 e segs. , mas pensamos que dificilmente se encontrará a origem desta obra especifica no espaço insular.

As naves tem uma armação de esteira e abas, aquela com uma decoração à base de laçaria, formando rodas de doze braços e pendentes nos mocaravezes. As abas tem elementos geométricos, tudo favorecido por feérica decoração já de grutescos. Os braços do transepto são, simultaneamente, duas capelas, da invocação de Jesus e Santo Antonio, com armações com a esteira octogonal alongada, idêntica na decoração à nave central, e às oito abas a adaptarem-se à base rectangular através de trompas de ângulo.

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Tecto de uma das salas da alfandega do Funchal

A construção dos três tectos da alfândega que chegaram até hoje foram conduzidas por Pero Anes, conforme se comprova pelos cadernos de pagamentos já publicados, aí trabalhando também os seus três criados Bartolomeu, Brás e Cosme e mais sete carpinteiros, Gomes Anes, Antão Gonçalves, Diogo Lourenço, João de Barros, Afonso Anes, Domingos Afonso e Gonçalo Nunes, além de outros trabalhadores menos qualificados profissionalmente (78)Quanto ao pagamento a estes construtores, anota-se que o mestre recebia 90 reais, os oficiais 75 reais e os criados 45, por cada dia de trabalho. Os quatro serradores auferiam também 75 reais diários e os serventes 45. Curiosamente refere-se também o trabalho de três escravos que acartaram tabuado de vinhático para o soalho, e de outra vez mais cinco; os seus nomes são portugueses, Brás, Diogo e Manuel, provavelmente africanos baptizados. José Pereira da Costa, A construção da alfandega nova do Funchal, Lisboa, 1978; António Aragão, Para a história do Funchal. Pequenos passos da sua memória, Funchal, 1979.. Estes tectos são muito mais simples que os da catedral, o que não admira, dada a diferença de categoria e de funções dos dois edifícios. Mesmo assim, foi dada maior importância ao da sala dos contos, por ser a principal do conjunto.

No coro-alto do Convento de Santa Clara, do Funchal, há também um tecto com traves decoradas mudéjares, para além do chão com azulejos relevados monocromáticos verdes com sete padrões diferentes de laçaria e dois fitomórficos. No centro do pavimento, numa área de noventa

metros quadrados, há mais um núcleo de quase quatro mil outros azulejos sevilhanos policromos. As obras fundamentais decorreram no final do século XV e no período manuelino, por iniciativa de João Gonçalves da Câmara, de quando se conserva o arcabouço do templo, o claustro de arcaria ogival e os seus anexos, nomeadamente, o coro (79)Luiza Helena Clode & José Victor Adragão, Madeira, Lisboa, 1989, pp. 66-67..

Com segurança pouco mais se pode adiantar sobre a aplicação destes azulejos sevilhanos em capelas e igrejas madeirenses (80)Luisa Clode & Paulo Freitas, Casa Museu Frederico de Freitas. Azulejos, Funchal, 1984.. Sabe-se que existiram no demolido Convento de Nossa Senhora da Piedade, construído na vila de Santa Cruz, em 1509, por Urbano Lomelino. Na igreja Matriz local há vestígios de mais amplas aplicações, embora possam também ser apenas alguns núcleos reaproveitados da extinta casa religiosa.

Também de carpintaria mudéjar é o tecto da capela-mor da capela de S. Paulo, cuja construção inicial remonta a 1425 e foi da iniciativa de Gonçalves Zarco, sob a invocação conjunta de S. Pedro e S. Paulo. Apesar das alterações do período barroco, mantém do século XVI a cobertura da ousia.

Tecto do desaparecido solar de D. Mécia do Funchal

No mesmo estilo era o tecto do solar de D. Mécia que ardeu em 1957, mas de que há testemunhos fotográficos. Desapareceram também os elementos mudejares do tecto da igreja Matriz de Santa Cruz, dos quais parece não haver registo.

A igreja Matriz da Calheta tem a estrutura manuelina, mas foi profundamente alterada no início

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Tecto da capela-mor da igreja Matriz da Calheta

do século XVII, entre 1604 e 1609, pelo mestre das obras reais Jerónimo Jorge, podendo datar desse tempo a remontagem do tecto mudéjar (81)Informação prestada pelo Doutor Rui Carita a quem agradecemos muitas outras informações preciosas e pistas para o estudo da arte madeirense..

A estrutura está completa, com a esteira central octogonal alongada, com um almocaravez central, dourado, e oito trapézios oblíquos que se apoiam nos flancos rectos e em quatro trompas de ângulo em forma de vieira invertida. O desenho é bem elaborado, quer no centro quer nas abas, complexo, baseado em losangos e estrelas de oito pontas. Os cachorros e os tirantes da nave são também de traçado mudéjar, estes de recticulado apertado e oblongo.

A capela-mor da igreja Matriz de Ponta do Sol é tambem uma reforma quinhentista e o tecto mudéjar da ousia pode agrupar-se ao anterior.

Outro importante tecto mudéjar, posto que repintado, é o da igreja Matriz do Loreto, onde também há colunelos no alpendre que julgamos serem andaluzes. A construção inicial deve-se a D. Joana de Eça, mulher de Pedro Gonçalves da Câmara.

Tecto da capela-mor da igreja Matriz de Loreto

13. ECOS MUDEJARES NOS AÇORES

Não houve nos Açores, tanto quanto nos podemos aperceber pelos edifícios e memórias deles que se conservam, que tenha havido um interesse pela arte mudéjar, como na Madeira e nas Canárias.

Do século XVI é o frontal de altar de azulejos de aresta que hoje se guarda no Museu de Ponta Delgada e que pertenceu à ermida de Nossa Senhora dos Remédios, da Vila de Lagoa, fundada em 1511 por Pedro Velho e sua mulher Catarina Afonso, natural da cidade do Porto (82)Manuel Ferreira, Pedras que falam. A Ermida de Nossa Senhora dos Remédios, Vila da Lagoa, 1988.. O mais curioso é que lá ainda se conserve outro frontal azulejar sevilhano, mas de data ligeiramente posterior, com motivos já renascentistas.

Frontal de azulejos da ermida da Mão de Deus de S. Miguel (Museu Carlos Machado de Ponta Delgada)

Também a ermida da Mãe de Deus, de Ponta Delgada, tinha um revestimento de azulejos sevilhanos, mas foi destruída em 1918.

Dois tectos que se podem datar dos séculos XVII e XVIII, tem formas que lembram os mudejares. São eles o do chamado Museu de Arte Sacra da Sé, de esteira central rectangular e quatro abas de barrotes simples, apenas com elementos poligonais na zona plana, e o da igreja de Santa Barbara de Manadas, na ilha de S. Jorge, de par y nudillo, mas com uma decoração totalmente barroca.

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14. CONCLUSÃO

Parece poder concluir-se que em, Portugal, desde a reconquista crista, sempre houve arte mudéjar. Porém, as suas manifestações foram desiguais, quer no tempo quer quanto a distribuição geográfica e, nalgumas regiões, parece não ter penetrado, ao contrario do que aconteceu noutras.

Mas, foi após a viagem de D. Manuel a Castela, em 1498, que o mudéjar se transformou numa verdadeira moda, sobretudo nos círculos da corte e entre aqueles senhores que tinham ido na comitiva regia. Na segunda década do século XVI, Sintra e Évora deviam apresentar uma fácies curiosa, com a mistura de formas de raiz muçulmana, outras de claro recorte gótico, e outras ainda já da renascença nascente; no fundo, como acontecia na mesma altura em Sevilha e Granada.

Se os tectos das igrejas junto a fronteira com Castela-a-Velha, Leão e a Galiza se mostram vinculados claramente as correntes espanholas, já o mudéjar alentejano e sintrense é diferente e denota autonomia. O recurso constante ao azulejo sevilhano prova à vontade a de querer fazer a maneira de outrem e não a sua. Este surto mudéjar manuelino foi uma moda fugaz que tão depressa veio como se foi.

NOTAS

(1)

Gonzalo M. Borrás Gualís, «El mudéjar como constante artistica», Actas del Simpósio Internacional de mudéjarismo. Arte, Teruel, 1981; Gonzalo M. Borrás Gualís,

«El arte mudéjar: estado actual de la cuestión», Actas do Seminario Internacional sobre El mudéjar Iberoamericano; una expresión cultural de dos Mundos, Granada, 1993, p. 9 e segs.

(2)

A historiografia artística espanhola tem dedicado ao mudéjar centenas de estudos. Deixamos aqui apenas alguns dos livros mais recentes e de carácter geral: Maria da Concepción Abad Castro, Arquitectura mudéjar religiosa en el arzobispado de Toledo, Madrid, 1989; Maria Dolores Aguilar Garcia, Malaga mudéjar. Arquitectura religiosa y civil, Malaga, 1980; Diego Angulo Iñiguez, Arquitectura mudejar sevillana de los siglos XIII, XIV y XV, Sevilla (1932) 1983; Gonzalo M. Borrás Gualís, Arte mudéjar aragonés, Zaragoza, 1978; Gonzalo M. Borrás Gualís, El arte mudéjar, Teruel, 1990; Gonzalo M. Borrás Gualís, Teruel mudejar, Patrimonio de la Humanidad, Zaragoza, 1991; Pedro Lavado Paradinas, Carpintena y otros elementos tipicamente mudéjares en la Provincia de Palencia, Palencia, 1977; Ignacio Henares Cuellar & Rafael Lopez Guzman, Arquitectura mudéjar granadina, Granada, 1989; Maria Carmen Fraga Gonzalez, Arquitectura mudejar en la Baja Andaluzia, Santa Cruz de Tenerife, 1977; Carlos Lasierra Gómez, La arquitectura mudéjar religiosa del siglo XVI en Aragón, Zaragoza, 1987; Balbina Martinez Caviró, Mudéjar toledano. Palacios y conventos, Madrid, 1980; Pilar Mogollón Cano-Cortes, El mudéjar en Extremadura, Cáceres, 1987; Basilio Pavón Maldonado, Arte toledano islamico y mudéjar, Madrid, 1973; Maria Teresa Perez Higuera, Arquitectura mudéjar en Castilla y Leon, Valladolid, 1993; Leopoldo Torres Balbas, Arte almohade. Arte nazari. Arte mudéjar (Ars Hispaniae, IV), Madrid, 1949; Manuel Valdés Fernandez, Arquitectura mudéjar en Leon y Castilla, Leon, 1981; Maria del Carmen Fraga Gonzalez, La arquitectura mudéjar en Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1977.

(3)

Ramón Gutierrez, Arquitectura y urbanismo en Iberoamerica, Madrid, 1983.

(4)

José Amador de los Rios, El estilo mudéjar en arquitectura, edição de P. Guenou, Paris, 1965.

(5)

Vicente Lamperez y Romea, História de la arquitectura cristiana en España, Barcelona, 1909.

(6)

Gonzalo M. Borrás Gualis, E1 legado del arte mudejar en España, Arévalo, 1994, p. 33.

(7)

Francisco Marques de Sousa Viterbo, «Ocorrências da vida mourisca», Archivo Histórico Portuguez, Lisboa, 1907, vol. V; António Costa Lobo, A Sociedade Portuguesa no seculo XV, Lisboa, 1904; José Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa, Lisboa, 1958, vol. I; Joaquim Verissimo Serrão, História de Portugal, Lisboa, 1977, vol. I; A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, 12.a ed., Lisboa, 1985, vol. I.

(8)

A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal vol. I, p. 138.

(9)

Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura portuguesa de la Época Manuelina, 2.a ed., Madrid, 1955.

(10)

Cfr. Viajes de extranjeros por España y Portugal en los siglos XV, XVI y XVII, Madrid, 1878.

(11)

Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura portuguesa de la Época Manuelina, p. 177 e segs. As nossas opiniões não divergem, fundamentalmente, das enunciadas por José Custódio Vieira da Silva no seu livro O tardo-gótico em Portugal. A arquitectura no Alentejo, Lisboa, 1989, p. 15 e segs.

(12)

Basilio Maldonado Pavón, Las almenas decorativas hispanomusulmanas, Madrid, 1967. Estas ameias compostas por triângulos sobrepostos invertidos aparecem com pequenas alterações também no Médio Oriente, no Egipto, por exemplo, nos mausoléus de Baybars al-Gushankir e de Tachtamur, do século XIV, claramente inspiradas nos protótipos peninsulares de Medinat al-Zahara.

(13)

Pedro Dias, «O mudejarismo na arte coimbrã. Seculos xv e XVI.», Arquivo Coimbrão, Coimbra, 1979; e «A viagem de D. Manuel a Espanha e o surto mudejar na arquitectura portuguesa», Actas do Simpósio Relaciones Artisticas entre Portugal y España, Salamanca, 1986.

(14)

F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico e documental dos architectos, engenheiros e construtores portuguezes ou ao serviço de Portugal, Lisboa, 1899-1922, vol. II, p. 42 e segs.

(15)

F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico …», vol. III, p. 152.

(16)

Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Lisboa, 1903, p. 235 e segs.

(17)

F. M. de Sousa Viterbo, Diccionario histórico …» vol. I, p. 420 e segs.

(18)

Prudêncio Quintino Garcia, Artistas de Coimbra, Coimbra, 1923, p. 1.

(19)

Vergílio Correia, «O contributo mussulmano na arte românica», Obras, vol. II, Coimbra, 1949, pp. 44-45.

(20)

Carlos Alberto Ferreira de Almeida, O Românico, (História da Arte em Portugal, vol. 3, Alfa), Lisboa, 1986, p. 103 e segs.

(21)

António Nogueira Gonçalves, Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, 1947, p. 4.

(22)

Pedro Dias, A arquitectura gótica portuguesa, Lisboa, 1994, p. 119 e segs.

(23)

«Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães», Boletim dos Monumentos, n.o 128, Lisboa, 1981.

(24)

Alfredo Guimarães, Mobiliário artístico português. Guimarães, Guimarães, 1935, p. 82-83.

(25)

Horácio Bonifácio, Luís Manuel Teixeira e Pedro Gomes Barbosa, «Da temática da decoração. Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães», Boletim …, n.o 128, p. 49 e segs.; Horácio Bonifácio, «Alguns aspectos da iconografia religiosa nas tábuas dos tectos de Santa Maria da Oliveira», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 367 e segs.; Pedro Barbosa, «A simbólica do Mal nas pinturas da Colegiada de Guimarães», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 477 e segs.

(26)

Basilio Pavón Maldonado, Arte toledano: islamico y mudéjar, Madrid, 1973, p. 231 e segs.

(27)

Luís Ferros, «A decoração heráldica do tecto da igreja Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira», Actas do Congresso Histórico de Guimarães …, vol. IV, p. 383 e segs.

(28)

Gaspar Estaço, Várias Antiguidades de Portugal, Lisboa, 1625, p. 178.

(29)

António de Vasconcelos, A Sé Velha de Coimbra, Coimbra, 1930, vol. I, p. 166.

(30)

Pedro Dias, «O mudejarismo na arte coimbrã. Séculos XV e XVI».

(31)

Reinaldo dos Santos, O azulejo em Portugal, Lisboa, 1957; J. M. dos Santos Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Lisboa, 1969; Rafael Calado, Cinco séculos de Azulejos em Portugal, Lisboa, 1980; José Meco, O azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; Maria José Goulão, «A cerâmica de uso e os azulejos manuelinos», História da Arte em Portugal (Ed. Alfa), vol. 5, p. 155 e segs.

(32)

Poderá ter sido mudéjar algum dos tectos da casa de Sub-Ripas, como noutro artigo sugerimos, mas foram todos demasiadamente adulterados para podermos ter certezas.

(33)

Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo de 1507 a 1510. Aspectos artísticos, Coimbra, 1979, p. 61.

(34)

Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo …, p. 136.

(35)

António de Vasconcelos, A Sé Velha de Coimbra, vol. I, p. 176. O desenho foi feito por Teixeira de Carvalho, quando da sua descoberta, sob a talha, em Julho de 1893.

(36)

Pedro J. Lavado, «Púlpitos mudéjares de yeso», Revista del Instituto Egipcio de Estudios Islamicos en Madrid, vol. XX, Madrid, 1979-1980, p. 145 e segs.

(37)

Pedro J. Lavado, «El arte mudéjar desde la visión castellana», Actas do II Simposio Internacional de mudéjarismo: Arte, Teruel, 1982, p. 23 e segs.; Pedro J. Lavado, «Las yeserias mudéjares en Castilla la Vieja y León», Actas do V Simpósio Internacional de Mudéjarismo, Teruel, 1992, p. 399 e segs.

(38)

Pedro Dias, «A viagem de D. Manuel a Espanha e o surto mudéjar na arquitectura portuguesa», pp. 111-128.

(39)

Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, nova edição conforme a de 1566, Coimbra, 1949, Parte I, cap. V.

(40)

Garcia de Resende, Chronica dos valerosos e insignes feitos del Rey Dom Ioam II, Coimbra, 1798 (ed. fac-similada, Lisboa, 1973), p. 297 e seas.; Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Parte I, cap. XXVI e segs.

(41)

António Herrera Casado, El palacio del Infantado, Guadalajara, 1975.

(42)

Florentino Perez Embid, E1 mudéjarismo en la arquitectura …, p. 203 e segs.

(43)

Vergílio Correia, Lugares d’Além, Lisboa, 1923.

(44)

Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Lisboa, 1903; Raul Lino, Os Paços Reais da Vila de Sintra, Lisboa, 1948; José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses. Caracterização e evolução da habitação nobre, Lisboa, 1993.

(45)

Jose Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 298 e segs.

(46)

Reinaldo dos Santos, «Sintra», Guia de Portugal, Lisboa, 1924, vol. I, p. 484.

(47)

Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, p. 195 e segs.

(48)

Ana Maria de Arez Romão e Brito Correia, Palácio Nacional de Sintra, Lisboa, 1994, p. 12.

(49)

Bartolomeu Ribeiro, Convento de Santo António do Varatojo, Braga, 1956.

(50)

Ana Rosa de Freitas, «Igreja de S. Pedro em Dois Portos, Torres Vedras», Monumentos, n.o 1, Lisboa, 1994, p. 63 e segs.

(51)

Conde de Sabugosa, A Rainha Dona Leonor, 1458-1525, Lisboa, 1921; Reinaldo dos Santos, «D. Leonor e a arte», Colóquio, n.° 1, Lisboa, 1959.

(52)

Liberato Telles, Mosteiro e Egreja da Madre de Deus, Lisboa, 1899, pp. 24-25.

(53)

Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Lisboa, 1973, vol. I, pp. 392-393; e vol. II, pp. 64-65. Devemos a informação da existência destes tectos ao nosso amigo e colega Arquitecto Jorge Brito e Abreu, pelo que expressamos aqui os nossos públicos agradecimentos.

(54)

Pedro Dias, A igreja de Jesus de Setúbal na evolução da arquitectura manuelina, Lisboa, 1987; José Custódio Vieira da Silva, A igreja de Jesus de Setúbal, Setúbal, 1988; Carlos Tavares da Silva & Fernando António Baptista Pereira, Convento de Jesus. 500 anos. Arqueologia e Historia, Setubal, 1989.

(55)

S J. M. dos Santos Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, p. 51 e segs.

(56)

Joaquim Rasteiro, Palácio e Quinta da Bacalhoa, Lisboa, 1895.

(57)

Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, Lisboa, 1966, vol. I, p. 183 e segs.

(58)

No topo dessa ala, avança uma varanda que, no corpo baixo tem um alpendre com cinco arcos também ultrapassados, mas com as voltas em material cerâmico, num estranhíssimo denticulado de ladrilho, que nos leva a desconfiar se não se tratara de uma criação oitocentista.

(59)

Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, p. 119.

(60)

Hoje, são visíveis, no Jardim Publico, onde foram colocadas, em 1866, pelo cenógrafo Luigi Cinatti, cinco janelas mudéjares geminadas, com arcos graníticos denticulados.

(61)

Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, 1992, vol. I, p. 276.

(62)

Pedro Dias, A arquitectura manuelina, Porto, 1988, p. 193.

(63)

Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Beja, vol. I, Lisboa, 1992, vol. I, p. 183 e segs; José Custódio Vieira da Silva, O tardo-gótico em Portugal, p. 51 e segs.

(64)

José Meco, O azulejo em Portugal, p.

189.

(65)

Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, p. 367 e segs.

(66)

José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 396 e segs. O estado actual deste notabilíssimo paço é de ruína, podendo aperceber-se melhor o seu encanto através dos desenhos feitos por Albrecht Haupt, que este arquitecto e historiador fez, na década de oitenta do século passado, e publicou no seu livro sobre a arquitectura da renascença em Portugal.

(67)

José Custódio Vieira da Silva, Paços medievais portugueses, p. 409.

(68)

Pedro Dias. A arquitectura manuelina, p.

203.

(69)

Luis Figueiredo da Guerra, Viana e Caminha, Porto, 1929, p. 16; e Flávio Gonçalves, «Arte importada e artistas estrangeiros nos portos de Entre Douro e Minho», Boletim da Biblioteca Publica de Matosinhos, n.° 22, Matosinhos, 1978, p. 5.

(70)

Pedro Dias, Visitações da Ordem de Cristo …, p. 155 e segs.

(71)

A. Lucena e Vale, «A porta românica de Ferreira de Aves», Beira Alta, vol. X, fasc. 1-2, Viseu, 1951; António Nogueira Gonçalves, «A igreja de Ferreira de Aves e os seus elementos românicos», Ocidente, vol. LXX, Lisboa, 1966.

(72)

António Nogueira Gonçalves, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952, pp. 182-183.

(73)

José de Castro, Bragança e Miranda, Porto, 1974, vol. I, pp. 241-242.

(74)

Maria Antónia Amaral, «O tecto mudéjar da capela de Santo António de Arguedeira (Tarouca)», Mundo da Arte, Lisboa, 1988, n.° 2, II série, p. 39 e segs. Agradecemos a Dra. Maria Antónia Amaral as preciosas informações sobre os tectos mudéjares de Castelo Mendo que não conhecíamos.

(75)

Luiza V. Clode, «Tectos de alfarge na ilha da Madeira», Espaço-Arte, n.° 1-2, Funchal, 1979, p. 47 e segs.; Rui Carita, «Os tectos de alfarge da Madeira. Século XVI. As relações da Madeira com a arte islâmica», Actas do II Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1989, p. 171 e segs.

(76)

Manuel Juvenal Pita Ferreira, A Sé do Funchal, Funchal, 1963; Rui Carita, História da Madeira (1420-1566). Povoamento e produção açucareira, Funchal, 1989, p. 404 e segs.

(77)

Carmen Fraga Gonzalez, «Carpinteria mudéjar en los archipiélagos atlánticos. Canarias, Madeira y Azores… Mudéjar Iberoamericano …, p. 157 e segs.

(78)

Quanto ao pagamento a estes construtores, anota-se que o mestre recebia 90 reais, os oficiais 75 reais e os criados 45, por cada dia de trabalho. Os quatro serradores auferiam também 75 reais diários e os serventes 45. Curiosamente refere-se também o trabalho de três escravos que acartaram tabuado de vinhático para o soalho, e de outra vez mais cinco; os seus nomes são portugueses, Brás, Diogo e Manuel, provavelmente africanos baptizados. José Pereira da Costa, A construção da alfandega nova do Funchal, Lisboa, 1978; António Aragão, Para a história do Funchal. Pequenos passos da sua memória, Funchal, 1979.

(79)

Luiza Helena Clode & José Victor Adragão, Madeira, Lisboa, 1989, pp. 66-67.

(80)

Luisa Clode & Paulo Freitas, Casa Museu Frederico de Freitas. Azulejos, Funchal, 1984.

(81)

Informação prestada pelo Doutor Rui Carita a quem agradecemos muitas outras informações preciosas e pistas para o estudo da arte madeirense.

(82)

Manuel Ferreira, Pedras que falam. A Ermida de Nossa Senhora dos Remédios, Vila da Lagoa, 1988.

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